quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Aquele Jogo da Masmorra com Dragões & tal - O sonho molhado de um 'murderhobo' em forma de livreto

Não sei se isso já aconteceu com você em algum momento, mas deixe-me ilustrar melhor a situação.
No início do ano, eu apoiei várias campanhas no Catarse, desde HQs até livros jogo, como esse que vamos conferir hoje. E durante meu hiato, acabei por me distanciar de quase tudo aquilo que eu gosto para priorizar meu trabalho.

Meses se passaram e começaram a chegar pacotes na minha casa. Pacotes esses que continham meus apoios que eu nem sequer me recordava ter participado.
Enfim, foi como se o meu eu do passado estivesse presenteando o meu eu do presente.
Confuso? Talvez…

Deixando de lado os paradigmas e paradoxos do meu dia a dia, hora de focar no que temos em mãos aqui.
Aquele Jogo da Masmorra com Dragões & tal” é um apanhadão de “regras da casa” de RPG híper-simplificado que pode ser empregado em qualquer sistema de sua escolha ou adaptado para uma partida totalmente improvisada ou até mesmo solo.

O pequeno encadernado, muito bem editado por sinal, conta com um pouco mais de trinta páginas, é ricamente ilustrado e apresenta todos seus conceitos de maneira concisa e com exemplos claros e fáceis de acompanhar.
Vale também apontar o bom humor com que esses exemplos são apresentados ao leitor, que tornou essa leitura, além de rápida, um prazer.

Focando nos quesitos mais técnicos aqui, as regras contidas, na sua maioria, um teor muito mais direcionado para partidas rápidas e sem compromissos.
Já que um dos principais pilares desse sistema é o incentivo à criatividade dos jogadores, onde o primeiro requisito é a criação de uma classe totalmente nova e que fuja, de certa forma, dos clichês dos jogos de RPG mais clássicos.
O livro ainda faz algumas sugestões de classes e raças um tanto peculiares, para atiçar um pouco mais os nervos criativos dos jogadores.

No entanto, e isso é algo que não posso opinar ou criticar com muita autoridade, já que não tive a oportunidade de experimentar uma partida com outros jogadores ainda. O livro propõe que uma partida pode ser jogada sem a necessidade de um mestre, já que o foco aqui é apenas o dungeon crawl (exploração de masmorras) e o combate. Então, o fator ‘interpretação’ é praticamente nulo e cada um dos encontros com monstros e armadilhas deve ser previamente acordado entre os jogadores.
Eu, na minha posição de mestre, achei isso um tanto inusitado, mas gostaria de experimentar em algum ponto. Já que ainda dispomos de um conjunto de regras opcionais extras. Com as quais podemos até improvisar uma partida solo.
No papel tudo isso soa bem e funcional, no entanto, eu tenciono fazer um play test em algum ponto e, quem sabe, fazer uma segunda review até.

Tirando da frente o que é o sistema em si, eu também gostaria de elogiar o senso de improviso e ‘DIY’ que o livreto tem.
Isso é extremamente nostálgico pra mim, pois me faz lembrar dos meus tempos de adolescente. Quando meus amigos e eu criávamos nossos próprios sistemas, regras da casa, cenários e tantas outras coisas para incrementar nossas partidas de RPG.

A única coisa que me incomodou e isso não é um problema isolado desse livreto em questão, mas, aparentemente, na cena do OSR brasileira, é a “necessidade” de sempre incluir um texto introdutório falando sobre “espaços seguros” e “contratos sociais” antes de começar uma partida. Sinceramente, isso é cansativo e desnecessário…

Quase todo livro ou zine de OSR que eu pego, vêm com algum texto ou paragrafo com algum tipo de comentário social ou cultural.
Cacetada, eu tô aqui para jogar uma partida de RPG, matar monstros, acumular saque e chutar bundas!
Não quero saber dos problemas do mundo real e muito menos desses comentários sociais enquanto jogo RPG.

Pode ser papo de nerd velho, babaquice da minha parte ou só bom senso mesmo, mas essa inclusão da problematização de tudo dentro do universo dos RPGs é algo que vejo como algo forçado e até hipócrita.

Fora isso, meus elogios para “AjdMcD&t” (sim, essa é sigla que usaram pro jogo) são muitos e vejo grande potencial no sistema para partidas mais curtas que podem durar desde uma ou até várias sessões.
Altamente recomendado para jogadores mais folgados que queiram trazer o seu “muderhobo” interior à tona e dar algumas boas risadas enquanto perambulam por masmorras escuras e fedidas.

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