terça-feira, 29 de março de 2022

Genndy Tartakovsky's Primal - Visceral, atmosférico e tocante, tudo ao mesmo tempo


 O nome de Genndy Tartakovsky pode não soar muito familiar para muitos brasileiros, mas, na verdade, basta lembrar de certos desenhos animados que foram muito populares durante o fim dos anos 90 e começo de 2000 que tudo começa a fazer sentido.
Senhor Tartakovsky foi o criador de "O laboratório de Dexter" e do aclamado "Samurai Jack", além de também ter atuado como diretor para "As meninas super poderosas", todos são desenhos muito queridos por seu fãs e foram ao ar pela Cartoon Network.

Eu, por outro lado, nunca fui muito fã dos desenhos citados acima, mas uma coisa sempre me chamava a atenção (não necessariamente de forma positiva), que eram os próprios desenhos dos personagens, todos eram super estilizados e exagerados a beira do absurdo. Por mais que esse estilo de traço também não fosse do meu agrado, é impossível negar que ele era marcante, até hoje personagens criados por Tartakovsky são facilmente reconhecidos.
Mas vamos ao que interessa de uma vez, sendo a animação de 2019 "Primal". E devo admitir que minha única motivação para embarcar nessa série foi o tédio de uma tarde de sábado em que eu não tinha absolutamente nada pra fazer.
Depois de desperdiçar cerca de dez minutos da minha vida pulando de um serviço de streaming para o outro, decidi colocar a série pra rolar enquanto almoçava.
Digamos que me vi tão compenetrado naquelas imagens que vinham da minha TV que acabei tendo de fazer uma viagem rápida até a cozinha para requentar minha comida!

Eu não estava mesmo preparado para o que viria a seguir, e isso serve apenas como um lembrete de que em certos momentos de nossas vidas é muito bom estar errado.
Ok, mas eu já estou me estendendo demais aqui, vamos às minhas impressões iniciais da série em questão.
Eu esperava por algo muito mais galgado em obras como "O mundo perdido" de Sir Arthur Conan Doyle, um clássico da ficção cientifica, sim, mas nem de longe uma das minhas leituras preferidas.
A série não apresentava a priori elementos que me levassem a acreditar que eu estaria tomando parte de uma grande aventuras com contornos de espada & feitiçaria, mas novamente, como é bom estar errado às vezes!
Logo no primeiro episódio, a paleta de cores me remeteu automaticamente ao clássico "Fire & Ice" de Ralph Bakshi e do eterno mestre Frank Frazetta.
Cores leves e quentes dão um ar quase confortável ao mundo pintado por Tartakovsky, mundo esse que parece de fato vivo e vibrante, algo que vai em total contrapartida (no bom sentido) com a brutalidade do mesmo.
Aqui homens, dinossauros e outros seres fantásticos coexistem em uma luta constante e selvagem por sobrevivência e supremacia nos ermos da terra.

O estilo artístico que poderia ser um detrator aqui, acaba por não me incomodar em nada, pois o traço cartunesco e exagerado de antes dá espaço a algo mais contido e funcional. Não que certos exageros não estejam presentes durante a animação, mas eles são usados de forma muito mais comedida e prezando pela narrativa ao invés de simples estímulos visuais que poderiam causar alguma estranheza.

Algo que também é digno de nota aqui é o roteiro, pois não há absolutamente nenhuma linha de diálogo aqui, afinal, estamos falando de um mundo com contornos pré-históricos, linguagem não era uma prioridade, mas sim a sobrevivência do mais forte.
Ao ler isso, tenho certeza de que muitos já devem ter achado um tanto estranho essa decisão por parte do criador, mas não se enganem, eu aplaudo de pé tal decisão, pois em tempos onde dialogo inchados e excessivamente verbosos se tornaram algo normal, é cativante ver algo sem uma palavra sequer ressoar tão profundamente.

Falando em ressoar, a história aqui é algo que também me cativou de uma forma totalmente inesperada. O que temos aqui é a típica história rodeada de eventos trágicos que nos levam até os caminhos da vingança, mas que por fim, dados os caprichos do destino, inimigos se tornam aliados em uma busca por sentido e de uma forma de seguir em frente.
Da necessidade da união surgem os problemas de relacionamento e dessas adversidades surgem laços ainda mais fortes. É notável o crescimento dos protagonistas de um episódio para o próximo.

Inclusive, não consigo me lembrar da última vez em que vi uma animação em que os personagens fossem tão, digamos, "humanos", capazes de emoções e sacrifícios em prol de um bem maior ou de um salvar o outro.
O que nos leva até outra característica que me agradou e muito, que é o ar de constante introspecção que contrasta de forma constante e paradoxal com a extrema brutalidade de que a série é capaz de mostrar.
Um exemplo perfeito dessas duas facetas pode ser muito bem constatada no quinto episódio "Rage of the Ape-Men", que vale ressaltar, que episódio incrível!

"Primal" é além de uma série que entretém e diverte, algo que me convidou a refletir e a rever certos conceitos quanto ao gênero de espada & feitiçaria.
Pois, eu nunca fui muito fã dessa coisa de usar dinossauros em contos de fantasia, acreditava ser algo que não cabia no gênero ou até mesmo genérico, mas "Primal" prova que é possível rever esses artifícios de forma brilhante e cativante.

Não houve um minuto durante meu tempo assistindo essa série em que desviei o olhar da TV, eu estava totalmente imerso no mundo de "Primal" e me deleitei com todas as incontáveis referências à espada & feitiçaria que permeiam cada episódio.
Ah, inclusive, ainda me faltam dois episódios para acabar a primeira (e até agora única) temporada, então já estou sofrendo com antecedência com o prospecto de ficar órfão de série dentro dos próximos dias.

"Primal" é uma obra primorosa de animação e uma carta de amor ao gênero de espada & feitiçaria. Os elementos que compõem o gênero podem ser um tanto sutis no princípio, mas estejam certos, eles estão todos lá e vão lhe garantir algumas horas de diversão de altíssima qualidade.

Sim, sou só elogios para "Primal" e espero que uma segunda temporada já esteja em produção, pois eu farei questão de acompanhar!

NOTA :  4/5 
(Essa nota está sujeita a alteração, já que ainda preciso assistir os dois últimos episódios)

sexta-feira, 25 de março de 2022

Swords of the barbarians, por Kenneth Bulmer - Tropeços, desventuras e uma tentativa ao épico



Kenneth Bulmer, autor britânico nascido na década de 20 e falecido em 2005, é um nome um tanto desconhecido para os leitores brasileiros do gênero de fantasia, então, sua vasta bibliografia é um dos tantos casos de autores que abordaram (e ainda abordam) o fantástico a serem relegados a indiferença dos ditos fãs de fantasia e principalmente do subgênero da espada & feitiçaria.
Esse é sem dúvida nenhuma um tema que será recorrente por aqui, então serei breve.
Assim como muitos outros autores do mesmo gênero, Bulmer também escreveu vários livros de contos, novelas e até mesmo algumas sagas mais longas de ficção cientifica, mas, o que iremos discutir nessa humilde resenha será o seu título de 1970, "Sword of the Barbarians" (A espada dos bárbaros), título esse que permanece inédito na língua portuguesa.

Tratando do enredo, sem entrar no território dos famigerados spoilers, aqui temos a história dos irmãos gêmeos, Torr Vorkun de Darkholm e sua contraparte feminina Tara Vorkun de Darkholm (gostou de ter que ler o nome deles por completo? Porque no livro  eles são repetidos ad nauseum), dois bárbaros que foram criados por um feiticeiro benigno que os resgatou quando ainda muito jovens dos ermos onde viviam com seu povo, a fim de educá-los. Mas apesar de sua criação oriunda de homem civilizado e até erudito, ambos ainda mantém laços com suas raízes e continuam sendo vistos como bárbaros pelos demais e até por eles mesmos.

Ambos tem o mesmo objetivo, a busca pelo seu pai adotivo que desapareceu há alguns anos e isso os leva a diferentes reinos durante o desenrolar da trama, onde acabam por se envolver em uma guerra entre senhores nobres e feiticeiros necromantes que lutam entre si por terras em um reino divido.
Parece interessante até agora pra você? Porque as coisas estão prestes a mudar...
Vale ressaltar que "Sword of the Barbarians" é um livro curto, apenas 127 páginas, algo que não é incomum para o gênero de espada & feitiçaria, mas o que ocorre aqui é uma tentativa de se morder mais do que se pode mastigar.
Novos personagens são incluídos na trama com frequência, e muitas vezes sem motivo aparente além de ticar de uma lista de esteriótipos, pois esses pastiches são muitas vezes totalmente irrelevantes para desenrolar da trama e acabam por ser sumariamente ignorados algumas páginas mais tarde.

Os próprios protagonistas, Torr e Tara, também não são um exemplo mestre de construção de personagens.
Torr é um típico bárbaro estereotipado que vemos em mesas de RPG por aí, agir antes de pensar é o seu mote e ele não perde a oportunidade de não ficar calado também. Enquanto Tara, devido aos seus dotes mágicos (ela consegue realizar pequenos feitiços quando fica nua) poderia ser uma personagem bem mais interessante, pois são raros os casos de personagens femininos diretamente ligados ao barbarismo, acaba por suprir o nicho de donzela em apuros durante mais da metade do livro, um belo de um desperdício.
O relacionamento entre os dois personagens chega a ser interessante em certos momentos, pois eles tem uma espécie de ligação psíquica que lhes permite se comunicar quando um deles esta em perigo, mas esse é um dom que, assim como outros detalhes, acaba por ser ignorado após mais um tempo de leitura.

Existem vários outros personagens coadjuvantes, como Frelgar, o pragmático, um ex-mago, que apesar de ter sido um grande mestre no passado, fez votos de nunca mais usar de sua magia e Zirmazd, o astuto, que será o vilão mor da trama e está de total acordo com todos os clichês do gênero.
Sendo um necromante, a serviço de um lorde corrupto, usa de magia e apetrechos mágicos para impedir o progresso dos heróis, vocês sabem bem, ossos do ofício.

Meu maior problema com esse livro é talvez a sua indecisão sobre o que ele se presta a ser, pois sempre há pelo menos duas ou três coisas acontecendo ao mesmo tempo, e eu consigo me compadecer plenamente com a constante indecisão dos protagonistas, já que nada é simples, tudo é difícil e tudo demanda uma resposta imediata nesse universo.

Apesar do ar genérico que temos aqui, da trama um tanto inchada devido à inclusão constante de personagens e conceitos novos a cada instante e até mesmo a dificuldade de entender qual é de fato o objetivo final, seja dos protagonistas ou vilões, pois tudo é muito nebuloso, eu ainda consegui me divertir lendo esse trabalho do Sr. Bulmer.
Não se trata, nem de longe, de algo seminal, uma obra-prima, ou o magnum opus do autor, mas trata-se de uma boa porta de entrada para o gênero.
"Sword of the barbarians" foi escrito e publicado na mesma época em que a obra de Robert E. Howard estava sendo redescoberta nos Estados Unidos, e devido à popularidade e repercussão obtida pelo cimério, obviamente "imitações" iriam surgir.
Mas um fenômeno que acho um tanto interessante sobre a espada & feitiçaria é que, independente de autores ou personagens, mesmo com as inegáveis influências e semelhanças com Conan, há sim um grande respeito pela imagem do herói bárbaro.
Sejam esses personagens jovens imaturos ou velhos guerreiros grisalhos, o arquétipo do imbatível combatente, erguido contra tudo e todos, é mantido através dessas histórias.

Algo que, vale muito ressaltar, está presente nesse livro, que apesar de todos os seus problemas e infinitas pontas soltas, conta com um final no mínimo bombástico.
Definitivamente fez valer a pena ler alguns dos momentos mais maçantes ou desconexos da história para chegar na "conclusão" (explico melhor as aspas em breve) tão intensa e arrebatadora para o confronto final entre Torr e Zirmazd.
Mas a conclusão não é bem um fim que fecha tudo como esperado, pois o livro acaba apenas com parte da missão cumprida, dando abertura para uma sequência, que até onde eu sei, nunca chegou a ser escrita.

Como considerações finais, diria que "Sword of the barbarians" pode não ser o melhor dos livros de espada & feitiçaria e mesmo cheio de problemas no ritmo da história e dos tantos coadjuvantes desnecessários, eu ainda me diverti com essa leitura.
Mesmo com apenas 127 páginas o livro parece um pouco maior devido aos problemas que já citei antes, mas mesmo assim é uma leitura rápida e que entretêm.
É como uma partida de RPG com os amigos no domingão, ninguém está nem aí para um grande desfecho épico, queremos apenas XP e curtir a aventura.

NOTA :   2,5 / 5





Desbravando masmorras


Salve, salve aventureiros!
Sejam todos muito bem vindos ao blog do Masmorra Mítica, um projeto que há muito eu já queria tirar do papel.
A ideia original era um canal no Youtube, que chegou a ir pro ar, mas que está agora  na geladeira indefinidamente por motivos técnicos, mas eventualmente o canal voltará a atividade.
Mas de toda forma, mesmo com o canal parado, eu não queria deixar de explorar os redutos mais muqueados do gênero de fantasia e principalmente da espada & feitiçaria, sendo de longe o meu estilo favorito.
Então este blog não é nada mais, nada menos do que o veículo que encontrei onde poderei partilhar desse mundo que tanto me fascina.

Aqui irei discorrer sobre livros, HQs, jogos, música e tantas outras mídias que sejam pertinentes ao estilo.
Nos meus mais de trinta anos de existência, adquiri um  gosto um tanto seleto pelo estranho e incomum, por tanto, não esperem encontrar aqui artigos gigantescos sobre nomes como Tolkien, C.S. Lewis ou George Martin.
Apesar de apreciar e admirar esses autores e da certeza de que seus nomes serão citados por aqui várias vezes com o passar dos tempos, o meu intuito é o de explorar os ermos da literatura e da cultura que permeia o gênero fantástico.
Minha principal missão aqui é trazer nomes desconhecidos até a luz e quem sabe até mesmo lhes apresentar o seu novo autor favorito.

Tentarei fazer uma postagem por semana aqui, seja uma resenha, artigo ou algo similar.
Grandes aventuras aguardam!