segunda-feira, 25 de abril de 2022

Entrevista : Kramp - Uma conversa com Mina Walkure, a voz de uma das grandes promessas do true heavy metal atual


     Nos últimos anos, muitas bandas tem carregado a bandeira do verdadeiro heavy metal com uma paixão que não se via no gênero há muito tempo.
    No mundo todo, esse boom do novo true metal tem revigorado a cena e revelado nomes de peso e que prometem ser dr de fato àqueles que carregaram o heavy metal para o futuro, sem comprometer as raízes do estilo.

    Kramp é um dessas bandas que, ao meu ver, serão tidas como um dos clássicos modernos e que serão responsáveis por perpetuar, não apenas musicalmente, mas também, toda uma questão estética que ainda perdura no gênero.

    Tive a oportunidade de bater um papo com a vocalista e mentora da banda, Mina Walkure, onde conversamos de forma muito bem humorado sobre a história da banda e sua paixão e experiências não apenas como o metal, mas com a espada e feitiçaria.

Boa leitura!

DISCLAIMER: An English version of this interview can be found below, after the portuguese version, you're welcome!

I – Olá Mina, em primeiro lugar, muito obrigado por seu tempo. Conte-nos um pouco sobre a história da Kramp.

 

Eu estava ansiosa para fazer música, e sendo maníaca por metal, a ideia de formar uma banda de heavy metal tradicional virou uma obsessão, hahah.

Alguns anos antes disso, perguntei ao meu irmão se ele queria tocar baixo para participar de outro projeto e foi assim que ele começamos a tocar.

A certa altura, decidi que era hora de formar uma banda do zero, por volta de 2010. Uma banda com minha própria visão, e nós dois começamos a procurar músicos. Não foi uma tarefa fácil, já que nossa cidade é bem pequena (e de mente fechada). Mas conseguimos encontrar alguns membros para começar uma turnê e gravar algumas demos.

Anos depois, estávamos sozinhos novamente, e decidi me mudar para a capital da Espanha, para Madri, para encontrar músicos e continuar trabalhando!

A história da banda é bem longa. hahaha.

Em 2016 lançamos nosso primeiro lançamento oficial: Wield Revenge. E até o final de 2020, nosso primeiro álbum: Gods of Death!

 

II – Quais as suas influências além da música? Que outras coisas lhe fizeram querer convertê-las em heavy metal?

 

Acho que era um pacote completo… Cresci nos anos 90, quando ainda havia uma influência óbvia do metal na mídia. Pelo menos na Espanha, que se atrasou um pouco a festa em termos de cultura pop. hahaha.

Lembro-me, por exemplo, de ter 3 anos e assistir Bikers Mice From Mars, e os personagens parecem ter escolhido suas roupas do armário do Rob Halford! Além do fato de que, ninguém menos que Jeff Scott Soto foi o responsável pela trilha sonora!!!! (quando descobri, estava na minha idade adulta e foi um momento alucinante)

Depois, outras séries populares, como Xena: A princesa guerreira. Aliás, essa pode ser minha primeira influência, na minha infância, para depois ser uma doida do heavy metal épico e armaduras de couro. hahahah.
Mais uma vez, as roupas estavam no ponto, e muito perto de algumas das minhas bandas favoritas, como Omen ou Running Wild!

E a arte… quando eu era adolescente, o ilustrador Luis Royo estava em voga aqui. Você sabe, a escola clássica de Frazetta, mas com seu próprio toque.

Devo admitir que ele é um pouco demais para o meu gosto, mas foi muito impressionante, e sua arte me levou a descobrir outros artistas incríveis desse estilo de fantasia.

 

III – Metal e fantasia estão fundidos desde a sua concepção. Como você vê essa conexão entre os mundos do heavy metal e da fantasia?

 

Bem, na pergunta anterior eu mencionei Frazetta, e de alguma forma acho que ele é o principal culpado do nascimento do heavy metal como estilo musical!!!! Ele é a principal influência da maioria dos ilustradores que marcaram o heavy metal.

Eu sempre gosto de celebrá-lo, mas imagine… sem ele, e suas ilustrações icônicas de Conan, entre outras, bandas como Manowar, não teriam desenvolvido sua imagem.

Ainda por cima, porque seu sobrinho, Ken Kelly, foi mais tarde o autor das artes do Manowar. Além disso, ele fez algumas das obras de arte mais icônicas de todos os tempos, no rock e no metal… KISS, Rainbow…

Além das ilustrações, a fantasia sempre foi um interesse dos maníacos do metal: voltando ao personagem Conan, que inspirou o heavy metal dos quadrinhos, filmes e, claro, dos contos. Ou Michael Moorcock, que trabalhou com bandas como Hawkwind, e muitos outros se inspiraram diretamente em seus nomes (Tygers of Pang Tang, Eternal Champion, etc...), e claro que todo o mundo de J.R. Tolkien deixou uma grande marca em todos os sentidos e subgêneros do metal!

Se formos um pouco além, podemos conectar essa influência da “fantasia” à própria mitologia. Que é um assunto frequentemente usado por bandas para suas letras.

Poderíamos continuar por horas!!!!!

 

IV – O que abriu os seus olhos para o mundo da espada & feitiçaria? Quais os seus autores, filmes ou jogos favoritos?

 

Meu primeiro contato, pelo menos que eu me lembre, foram alguns desenhos como Príncipe Valente, hahaha. Segundo minha mãe, quando criança eu era apaixonada pelo personagem principal, mas vai saber, eu era um ser humaninho muito pequenino, hahaha.

Minhas memórias mais vívida são As Jornadas Lendárias Hércules e Xena: A Princesa Guerreira. Você sabe, não é pura espada e feitiçaria, mas eles se inspiraram na mitologia grega e deram uma reviravolta completa criando um universo inteiro. Foi muito legal assistir!

Um dos jogos que me marcou para sempre nessa área, foi Sacred. Acho que não é super conhecido, mas aos domingos, o jornal dava algumas coisas de graça ou por um dinheirinho extra. Meu pai veio um dia com aquele jogo e eu e meu irmão ficamos obcecados.

O jogo é um Diablo II pobrinho, sejamos honestos, mas quem se importa! Ainda amamos. Era ,uito divertido de jogar. (Curiosidade, teve um Sacred II que foi muito ruim, e Blind Guardian participou da trilha sonora)

Um dos meus favoritos. autores (além, é claro, de Robert E. Howard!!!!) é Fritz Leiber. Eu o descobri ao acaso, porque em um brechó encontrei alguns livros antigos do Conan, além de uma compilação de contos “bárbaros”, muuuuito barato. Caramba, foi uma boa caça ao tesouro, porque esses valem muito hoje em dia. A questão é que, graças a esse livro, descobri muitos autores incríveis, e Leiber era tão diferente!! Seu jeito de escrever é tão foda e punk, hahaha.

Adoro o espírito solene de outros autores, como Howard! Ele inspira aquela vibe poderosa e séria. Mas Leiber é mais caótico, um pouco malandro… Adoro!

E para filmes… oh Crom! Novamente citando Conan. Quem está surpreso até agora!??!?!?!?

Mas a lista pode ser interminável. De produções com qualidade super alta, a pura porcaria da série B, hahaha. Kull: The Conqueror, Dragonheart, Fire And Ice, Black Cauldron, Highlanders, Heavy Metal, Swords of the Barbarians… e assim por diante!

 

V – Além de ser a vocalista na Kramp, você também é responsável pelas artes, certo? Fale um pouco sobre a sua história com a arte e seus artistas favoritos, antigos e novos.

 

Uh! Eu faço toda a arte, sim, incluindo o design do merchandising.

Para ser justa, nunca me considerei boa o suficiente nesse departamento, mas sou uma nerd que adora design gráfico e… precisávamos economizar algum dinheiro para a arte.

No início da minha carreira, precisávamos de pôsteres, logotipos e toda essa merda. E, claro, eu não conhecia ninguém.

Uma das minhas chaves na vida é que, como não tenho as melhores habilidades sociais e não consigo encontrar facilmente pessoas para fazer algumas tarefas, eu resolvo essas tudo sozinha. Às vezes com mais sucesso que outras, hahaha.

Acho que isso ajudou a banda a ter uma identidade e um universo único para si, já que tudo está conectado e vem direto da mesma mente. Incluindo nosso poderoso esqueleto guerreiro, Atapurcio, que aparece em algumas das artes e merchans.

Essa arte vai um pouco além das ilustrações e também reflete em todos os projetos DIY que a banda tem: adereços de palco, cenográfia para vídeos, figurinos…

Minha arte é muito inspirada em Frazetta, Boris Vallejo, Clyde Caldwell, Ken Kelly, Joe Jusko e claro… ANDREAS MARSCHALL!!!!


VI – Kramp faz parte daquilo que tem sido chamado de “nova onda do true heavy metal”, como você vê a ressurgência do true metal ao redor do mundo e quais bandas novas você crê que todos deveríamos conhecer?

 

Adoro ver este som mais forte do que há alguns anos. Quando eu era adolescente, com fome de viver do heavy metal tradicional, eu não encontrava nada além de risadas, porque o gênero estava “desatualizado”. Era difícil encontrar colegas dentro do mesmo nicho, e bandas atuais fazendo o mesmo estilo.

Mas então: BAM, o mundo explodiu com esse movimento.

Bandas não tão jovens, mas algumas que eu adoro são: Blazon Stone, Visigoth, Iron Fate, Wytch Hazel, Evil Invaders… oh, muitos nomes!!


VII – Gods of Death já foi lançado há dois anos, como tem sido a sua recepção? O que podemos esperar para do futuro da Kramp?


A recepção tem sido incrível! Foi lançado em um momento muito arriscado, em plena pandemia, sem nada garantido. Mas você sabe, nós somos filhos da puta bárbaros prontos para correr riscos!!!!!!

Foi incrível do momento zero. Todos pareciam adorar o álbum, e mesmo tendo sido lançado no final do ano, ele conseguiu entrar em muitas listas de “melhores álbuns do ano”. Os discos de vinil esgotaram muito rápido.

A parte triste é que nunca tivemos a oportunidade de fazer uma turnê com este álbum, e isso é uma merda.

Estamos preparando muitas coisas e surpresas para o futuro próximo. Espere algumas mudanças, mas não tenha medo.

A ambição e a paixão crescem a cada dia!!!


VIII – Mina, mais uma vez lhe agradeço a atenção. O espaço é seu para deixar uma mensagem para os fãs brasileiros (e do mundo todo também).

Saudações a todos vocês meus amigos! O Brasil é um país que sempre continua trazendo ótimas bandas e alguns do maníacos mais dedicados que existem!

Fiquem ligados para mais música por vir e UP THE HAMMERS!

 ENGLISH VERSION :

 

I - Hello Mina, first of all thank you very much for your time. Tell us about the history of Kramp.

 

I was eager to make music, and being a metal maniac myself, the idea of forming a traditional heavy metal band became an obssession, hahah.

Some years before that, I asked my brother if he wanted to pick the bass to join another project and that’s how he started to play.

At one point, I decided it was time to form a band from scratches, around 2010 or so. A band with my own vision, and we both started to search for musicians. Not an easy task, since our city is quite small (and close minded). But we managed to find some members to start touring and recording some demos.

Years later, we found ourselves alone again, and I decided to move to the capital of Spain, to Madrid, to find musicians and keep working our asses off!

The history of the band is quite long hahaha.

In 2016 we published our first official release: Wield Revenge. And by the end of 2020, our first album: Gods of Death!


II - What are your Influences beyond music? What other things made you want to "convert" them into heavy metal?

I guess it was a whole package… I grew up in the 90s, when there was still an obvious metal influence in the media. At least in Spain, which was a bit late to the party in terms of pop-culture, hahaha.

I remember, for example, being 3 years old and watching Bikers Mice From Mars, and the characters seem to have picked clothes from Rob Halfords closet! Besides the fact that, none other than Jeff Scott Soto was in charge of the soundtrack!!!! (when I found out, was in my adult years and it was a mindblow moment)

Then other popular issues, like Xena: The Warrior Princess. In fact, that may be my first influence, in my childhood, to later be an epic heavy metal maniac and leather armors hahahah. Again, the outfits were on point, and very close to some of my fav. bands, such as Omen or Running Wild!

And the art… when I was a teenager, the illutrator Luis Royo was on vogue here. You know, classic school of Frazetta, but with his own twist.
I must admit that he’s a bit too much for my taste, but it was very impressive, and his art lead me to discover other amazing artists of that fantasy style.

 

III - Metal and fantasy had been fused since its birth  How do you see the connection between the worlds of heavy metal and fantasy?

Well, in the previous question I mentioned Frazetta, and somehow I think he’s the main guilty of the born of heavy metal as a music style!!!! He is the main influence of most of the illustrators that left a mark in heavy metal.

I always like to celebrate him, but imagine… without him, and his iconic Conan illustrations, among others, bands such as Manowar, would not have developed his image.

More on, because his nephew, Ken Kelly, was later the author of those Manowar artworks. Plus, he did some of the most iconic artworks EVER, in rock and metal… KISS, Rainbow…

Besides illustrations, fantasy was always an interest for metal maniacs: going back to the Conan character, who inspired heavy metal from comics, movies, and of course the tales. Or Michael Moorcock, who worked with bands such as Hawkwind, and many others took direct inspiration for their names (Tygers of Pang Tang, Eternal Champion, etc...), and of course the whole world of J.R. Tolkien left a huge mark in every way and metal subgenre!

If we go a bit beyond, we can connect that “fantasy” influence to mythology itself. Which is a subject often used by bands for their lyrics.

We could go on for hours!!!!!


IV - What opened your eyes for the world of sword & sorcery? Do you have any favorite authors, movies or games?

My first contact, at least that I remember, were some cartoons such as Prince Valiant, hahaha. According to my mother, I was a toodler in love with the main character, but who knows, I was a very tiny human, hahaha.

My most vivid memory are Hercules: the Legendary Journeys, and Xena: The Warrior Princess. You know, it’s not pure sword & sorcery, but they took that inspiration on greek mythology and give a full twist creating a whole universe. It was so cool to watch!

One of the games that marked me forever in that area, was Sacred. I guess is not super known, but on sundays, the newspaper was giving some stuff for free or for little extra money. My father came one day with that game and both, my brother and I, were obssesseeeeed.
The game is a poor Diablo II, let’s be honest, but who cares! We still love it. Very fun to play. (Fun fact, there was a Sacred II that sucked a lot, and Blind Guardian participated on the soundtrack)

One of my fav. authors (besides of course Robert E. Howard!!!!) is Fritz Leiber. I discovered him very randomly, because on a thrift store I found some old Conan books, plus a compilation of “barbarian” tales, sooo cheapppp. Damn, that was a good treasure hunt, because those worth a lot nowadays. The thing is that, thanks to that book, I discovered many awesome authors, and Leiber was so different!! His way of writing is so badass and punk, hahaha.
I love the solemn spirit of other authors, such as Howard! He inspires that mighty serious vibe. But Leiber is more chaotic, a bit rascal… I love it!

And for movies… oh Crom! Again quoting Conan. Who’s surprised so far!??!?!?!?
But the list can be endless. From high productions with super quality, to pure serie B crap, hahaha. Kull: The Conqueror, Dragonheart, Fire And Ice, Black Cauldron, Highlanders, Heavy Metal, Swords of the Barbarians… and it goes on and on! 

 

V- Beyond being the singer for Kramp, you also take care of the art, right? Tells us a little about your history with art and what are some other artists,  new & old, that you admire.

 

Uh! I do all the art, yes, including merch design.
To be fair, I never considered myself good enough on that department, but I’m a nerd who loves graphic design, and… we needed to save some money for the art.

At the beggining of my career, we needed posters, and logos, and all that shit. And of course, I did not know anyone.
One of my keys in life is, that since I don’t have the greatest social skills and can’t easily find people to do some tasks, I jump in and solve those myself. Sometimes with more success than others, hahaha.

I think that helped the band to have a unique identity and universe for itself, since everything is connected and comes straight from the same mind. Including our mighty skeleton warrior, Atapurcio, who is featured in some artworks and merch.
This art goes a bit beyond illustrations and also reflects on all the DIY projects that the band has: stage props, costume designs for videos, outfits…

My art is very much inspired by Frazetta, Boris Vallejo, Clyde Caldwell, Ken Kelly, Joe Jusko and of course… ANDREAS MARSCHALL!!!!

VI - Kramp is part of has been called the "new wave of true heavy metal", how do you see this ressurgence of true metal around the world and what new bands do you believe everyone should check out?

I love seeing this sound stronger than some years ago. When I was a teenager, hungry to make a living out of traditional heavy metal, I found nothing but laughs around, because the genre was “outdated”. It was hard to find collegues within the same niche, and current bands doing the same style.

But then: BAM, the world exploded with this movement.

Not so young bands, but some that I love are: Blazon Stone, Visigoth, Iron Fate, Wytch Hazel, Evil Invaders… o many names!! 

 

VII - Gods of Death has been out for around two years now, how has the reception for it been?
What can we expect for Kramp's future?

The reception has been amazing! It was released in a very risky moment, in the middle of the pandemic, with nothing assured. But you know, we are barbarians motherfuckers ready to take risks!!!!!!

It was amazing from momento zero. Everyone seemed to love the álbum, and even though it was released by the end of the year, it managed to sneak into many lists of “best albums of the year”. Vinyls sold out pretty quick.

The sad part, is that we never had the opportunity to tour with this álbum, and that sucks.

We’re preparing many things and surprises for the near future. Expect some changes, but don’t be scared.
The ambition and passion grows every day!!!

 

VIII- Mina, thank you very much once again.
The space is yours to leave a message for the Brazilian fans (and fans worldwide too).

Greetings to you, my fellow friends!! Brazil is a country that always keeps bringing great bands and some of the most dedicated metal maniacs out there!!!

Stay tuned for more music to come, and UP THE HAMMERS!


 Para conhecer mais sobre Kramp, confiram os links abaixo:

Ouça Gods of Death AQUI
Site oficial & Merchandising AQUI
Bandcamp AQUI
Instagram AQUI
Facebook AQUI


segunda-feira, 18 de abril de 2022

Dungeon Synth - Trilha sonora para explorar masmorras e toda a sorte de missões épicas

  

 Para aqueles que vem prestando atenção no mundo da música mais underground, desde 2011 houve uma ressurgência (leia-se um boom) não apenas no interesse, mas também na aparição de novos criadores de dungeon synth. Mas antes de nos adiantarmos demais, vamos entender melhor o que exatamente é esse tipo de música tão fascinante.

    Nesse artigo vamos ilustrar um pouco da história do dungeon synth, partindo da sua concepção até  a renascença dos dias atuais.

 AS ORIGENS NEBULOSAS - ANOS 80 E 90 :

    Muitos atribuem as origens do dungeon synth ao ex-baixista da banda de black metal norueguesa Emperor. Håvard Ellefsen, que atende pela alcunha de Mortiis, deixou a banda após a gravação de uma demo e uma EP, então,focando exclusivamente em seu projeto solo homônimo, que deixou de lado todos os elementos do metal, direcionando sua música exclusivamente à criação de atmosferas sombrias, evocativas e misteriosas. Um tipo de música que já era até comum dentro da cena do black metal nos anos 90, pois esse tipo de composição já podia ser ouvida com certa frequência em intros e outros usadas em álbuns e demos do estilo. Mas o que acontece no dungeon synth é que ao invés do uso dessas faixas apenas como "adereços" para estabelecer uma atmosfera, todo o álbum é habitado por passagens predominantemente instrumentais um tanto sombrias.

    Originalmente, Mortiis nomeou esse gênero como "dark dungeon music" em referência ao seu próprio selo independente, pois termo "dungeon synth" ainda não havia sido criado e só viria a ser relacionado a esse tipo de música de forma retroativa em 2011. Até então, o gênero ainda era atribuído ao dark ambient.

    Apesar do distanciamento que Mortiis teve do black metal, a estética do gênero ainda perdurou no dungeon synth, com o uso do tradicional "corpse paint" e toda a indumentária que fazia parte do estilo aindam tinha espaço dentro desse novo movimento cultural, que por muitos é tido como uma cria direta do black metal do inicio dos anos 90.
    No entanto, Mortiis não foi o único a se aventurar nos solos da música instrumental devota ao fantástico, pois na Inglaterra, antes mesmo da primeira demo de Mortiis ter sido gravada. Jim Kirkwood já vinha produzindo o mesmo tipo de música (apesar de um tanto mais cinemática e bombástica em comparação com o troll norueguês), sendo um dos artistas mais prolificos do gênero, lançando vários álbuns e demo por ano, com o seu primeiro lançamento oficial em 1990 e o mais recente em 2021, no entanto Jim alega já estar ativo desde os anos 80.
    Assim como Mortiis, Kirkwood também encontrou inspiração para sua música nas obras de escritores de fantasia como Tolkien, Howard, Moorcock e correlatos.
    Apesar de Kirkwood optar pelo termo de "electronic gothic music" para seus trabalhos, em total contra partida do nome um tanto mais "dark" que Mortiis usou, a semente para um gênero estava plantada.

    Vale ainda apontar, que além dos dois nomes de peso já citados como pilares da formação do dungeon synth, estilos mais distintos (leia-se exóticos) como o "Kosmiche Musik", gênero oriundo da Alemanha que teve sua gênese ainda nos anos 70, o new age e inumeráveis trilhas sonoras de filmes também são tidos como progenitores do dungeon synth.

    Mesmo sem ainda ser detentor de um título classificatório definitivo, durante o transcorrer anos 90 outros nomes, que na época passaram desapercebidos pelo underground, surgiram ao redor do mundo, mas principalmente na Europa esses projetos ganharam mais notoriedade.
    Grupos como Depressive Silence (Alemanha), Lamentation (Grécia) e Aäkon Këëtrëh (França) e Secret Stairways (EUA) viriam a se consolidar como pilares do gênero de forma retroativa. Até o infame Burzum de Varg Vikernes seria tido como um dos nomes indispensáveis do gênero com seus dois álbuns gravados na prisão,  Dauði Baldrs (1997) e Hliðskjálf (1999)

O que ouvir :

A IDADE DAS TREVAS E A RENASCENÇA - OS ANOS 2000 ATÉ O PRESENTE :

     Após o inicio do novo milênio, as subculturas do underground passaram por muitas transformações inusitadas, indo desde aa popularização de new/nu metal, a mesclagem de elementos industriais e experimentalismos em vários estilos músicas distintos começavam a tomar força durante esse período. E estilos mais galgados em suas raízes acabaram por ser "ignorados" durante alguns anos.
    A própria historia do dungeon synth é um perfeito exemplo disso, já que no final dos anos 90 em diante, Mortiis, que era tido como um avatar do gênero, deixou de lado os sintetizadores e abandonou os porões para ganhar os palcos com um nova indumentária musical e visual, focando-se unicamente na música industrial.

    Isso não quer dizer que o gênero estava morto, pois, pequenos projetos independentes ainda sugiram aqui e ali no decorrer da primeira década de 2000.
    Mas foi em 2011, através do Dungeon Synth Blog, capitaneado por um certo Andrew Werdna, que a notoriedade desse tipo de música para masmorras começaria e ganhar vida nova.
    Werdna é creditado como o responsável por cunhar o termo "dungeon synth" de forma definitiva, e foi logo na primeira postagem de seu blog que ele elaborou melhor sobre esse estilo musical, dizendo o seguinte:

"Dungeon synth é o som da cripta ancestral. O sopro da tumba que pode apenas ser concebido pela musica primitiva, necro, lo-fi, esquecida, obscura e ignorada por toda a sociedade mainstream.
Quando você escuta dungeon synth você esta fazendo um escolha consciente de passar o seu tempo em um cemitério, contemplar, a luz de velas, um obscuro tomo que carrega em si segredos sutis que todos os homens sãos evitam"

    A descrição em si é um tanto carregada de romantismo, saudosismo e até mesmo um senso elitista, mas isso é apenas uma comprovação de suas origens oriundas do black metal do inicio dos anos 90 que ainda perdura (em essência) em muitos projetos de dungeon synth.
    Deste ponto em diante, com o advento da já consolidada internet e com a popularização de home studios, o que facilitou e muito para músicos amadores criarem suas próprias demos, o dungeon synth retorna das masmorras do passados e toma de assalto o underground.

    É aqui que antigos projetos são redescobertos, como nos casos de Depressive Silence e Forgotten Pathways, e novos nomes começam a chamar a atenção do público.    
    Projetos como Erang (França), Lord Lovidicus (EUA), Thangorodrim (EUA) e Sequestred Keep (EUA) foram alguns dos nomes que permearam essa "primeira onda" da ressurgência do gênero. Juntos deles selos dedicados exclusivamente ao dungeon synth também começam a surgir e hoje já são nomes consolidados no underground.
    Selos como Hollow Myths, Out of Season, Dungeons Deep Records, são alguns dos poucos exemplos a serem citados aqui, e foi através desses selos que novos nomes também emergem e nos brindam com o grandes obras do gênero e, em alguns  casos, ganhamos até alguns clássicos modernos.

    Outros projetos notáveis a serem dados os devidos respeitos aqui são Old Sorcery (Finlândia), Quest Master (Australia), Torchlight (Italia) e Old Tower (Holanda), esse último ainda vale uma menção especial, pois trata-se de um projeto paralelo dos membros da banda de a raw black metal Blood Tyrant.

    Não foi apenas o surgimento de novos  projetos que revigorou o dungeon synth, mas também o senso de comunidade que permeava entre os fãs e entusiastas. O já citado "Dungeon Synth Blog" de Andrew Werdna e o "Dungeon Synth Forum" foram redutos para angariar uma fan base mais abrangentes, e aquilo que antes era visto até mesmo como um subgênero do black metal ou simplesmente chamado de dark ambient, agora tinha uma própria cena em seu entorno, tornando o dungeon synth cada vez mais popular nos círculos do underground.
    Outro fator que foi eminente na propagação dos projeto (antigos e novos) foi a sua inserção em plataformas como Youtube, com o canal "The Dungeon Synth Archives" e similares e, principalmente, o Bandcamp, que se tornou o bastião para encontrar, ouvir e divulgar dungeon synth hoje em dia.

    Tendo o dungeon synth finalmente se consolidado como um gênero musical por si só e vendo-se "livre" de certas estigmas relacionadas ao seu passado ligado diretamente ao black metal, ele começa a passar por algumas transformações ou até mesmo "divisões" seria um termo mais adequado. Pois, daqui em diante o experimentalismo também começa a surgir dentro do próprio dungeon synth e subgêneros começam a ganhar forma e nomenclaturas distintas como dungeon noise (uma mistura de dungeon synth com noise music e power electronics) medieval synth (focado muito mais em composições usando instrumentos tipicamente mediavais), Japanese synth (totalmente voltado para as sonoridades do Japão feudal), e esses são apenas alguns dos exemplos do que vieram a surgir dentro da precoce cena.

    Um fenômeno que também contribuiu para a explosão do gênero pode ser atribuído ao isolamento forçado do qual todos estivemos sujeitos nos últimos anos. Algo que por muitos fora recebido de forma um tanto negativa, para músicos introspectivos e entediados foi a oportunidade de ouro para a criação e exploração de novas sonoridades. E oexperimentalismo que já vinha ocorrendo dentro da cena, começa a ganhar ainda mais força. Algo que culminou em certos projetos que o uso de adjetivos como "intrigante" ou "exótico" não seria desmedido, como veremos a seguir.

O que ouvir :

O REINO DA IMAGINAÇÃO -  O EXPERIMENTALISMO DOS TEMPOS MODERNOS :

    Uma menção indispensável para o dungeon synth é a sua ligação direta com o mundo dos RPGs de mesa. Tanto é que o gênero começou a ganhar nova vida na mesma época em que a cena do OSR também vinha ganhando força.
    Houve então uma espécie de união entre ambos os públicos, que gerou muitos projetos interessantes em suas propostas e iniciativas.

    O primeiro elemento digno de nota seria a gravadora Italiana Heimat Der Katastrophe (HDK daqui em diante), que desde 2017 vem lançando álbuns em formatos analógicos e digitais de dungeon synth e outros estilos um tanto mais experimentais.
    Focando em uma estética muito mais old school e saudosista  que evoca as artes de módulos antigos para D&D, dungeon crawlers para computadores das décadas de 70 e 80,  livros antigos de espada & feitiçaria de autores desconhecidos e até mesmo todo um aspecto estético oriundo do mundo soviético pós era atômica, a HDK teve grande repercussão na cena  com seus lançamentos diversos e que vem repletos de bônus, como pequenos livretos com aventuras prontas de RPG, para aqueles que se deram ao trabalho de adquirir uma cópia física.

    Alguns nomes notáveis que foram revelados pela HDK foram Kobold, Basic Dungeon e Fvrfvr, como projetos voltados para o universo de RPGs antigos e munidos de melodias em chiptune que remetem diretamente para jogos de computador antigos e até mesmo alguns consoles 8-bit, como o adorado portátil da Nintendo, o Game Boy. Valendo ainda o adendo de que em uma apresentação ao vivo, Lord Cervos, o homem por trás do Fvrfvr usou de um Game Boy ligado em um sintetizador Korg em seu set ( apresentação essa que pode ser encontrada AQUI).

    A HDK ainda conta com muitos outros projetos que são, no mínimo, intrigantes,alguns até beirando o bizarro, mas sempre cativantes e dotados de muita paixão, não apenas por partes dos músicos envolvidos, mas também da gravadora.
     Eu poderia fazer um artigo inteiro falando só sobre o cast variado de artista que a HDK conta em seu roster, mas isso levaria tempo demais, então fica a recomendação de umas das iniciativas mais inovadoras que surgiram junto com o revival do dungeon synth. 

    Ademais, seria impossível deixar de comentar outros dois projetos distintos (porém capitaneados pelo mesmo artista) que trouxeram algo novo e um tanto inusitado para a cena.
    Diplodocus é um projeto que se atém ao tema de dinossauros e períodos pré-históricos e acabou por ganhar a alcunha de "dino synth" (sim, você leu certo) associada ao seu estilo de música um tanto particular. Assim como o projeto Grandma's Cottage (Casa de campo da Vovó)que  tem uma proposta que se difere ainda mais do restante do gênero. Já que o foco aqui é a atmosfera nostálgica que permeia uma "estadia na casa da vovó durante uma manhã de natal". Um tanto especifico, sim, mas não há outra forma de descrever a música contida nos álbuns do projeto em questão.

O que ouvir:

O QUE O FUTURO RESERVA?

   O dungeon synth vem crescendo cada vez mais com o passar dos anos, algo que ficou evidente um pouco antes do pandemia com a realização de eventos dedicados exclusivamente ao gênero, o próprio Mortiis voltando a suas raízes e fazendo shows pelo mundo todo, com um set totalmente dedicado ao seu material antigo, e sem falar no surgimento de cada vez mais selos e distros que carregam exclusivamente o dungeon synth em seus catálogos.
   A criatividade dos artistas que se aventuram pelas masmorras desse gênero musical tão peculiar parece não ter fim. Sejam essas masmorras frias e horripilantes ou até mesmo o palco para aventuras épicas e heroicas.

    No Brasil, alguns poucos projetos apareceram aqui e ali nos redutos mais profundos do underground nacional. Até mesmo um zine chamado adequadamente e simplesmente de "Masmorra" já existiu por aqui.   

   No mais, espero ver novos nomes emergindo, sejam eles exóticos ou firmemente atendo-se as raízes do gênero, pois o dungeon synth é um dos estilos musicas mais interessantes e dignos de notas dos últimos anos. Com sua comunidade crescente, musicalidade distinta e atitude DIY, ele tem tudo para cativar novos ouvintes e inspirar músicos aspirantes.


LINKS:

Dungeon Synth Blog
Dungeon Synth Forum
The Dungeon Synth Archives
Bandcamp/Dungeonsynth
Heimat Der Katastrophe
Out of Season

 

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Entrevista : Carlos Rocha, escritor fantástico extraordinário bate uma papo na masmorra!

 

Salve Salve, criaturas das masmorras!

A primeira entrevista sempre é algo especial e é por isso que com grande satisfação que o Masmorra Mítica lhes oferece, Carlos Rocha, escritor e responsável  pelo Selo Multiversos, que já vem há anos deixando sua marca na cena da literatura fantástica brasileira.

Hoje, tive a oportunidade de bater um papo com o homem e falamos um pouco sobre sua trajetória, influências e sua atual campanha no Catarse para a publicação de seu HQ autoral "Quill, O exterminador de demônios".

No fim da entrevista estão todos os links para que vocês possam conhecer melhor esse trabalho digno de nota no cenário nacional.

Sem mais delongas, é com muito orgulho que o Masmorra Mítica lhes oferece, Carlos Rocha!

 

1- Em primeiro lugar Carlos, muito obrigado pela oportunidade de fazermos essa entrevista. Vamos começar com a sua formação literária. Quais autores e títulos lhe inspiraram (e inspiram) para escrever seus contos?

Puxa, eu que agradeço! Para começar, minha iniciação à leitura veio bastante tarde. Só comecei a ler após pegar emprestado com um colega de escola, aos 16 anos, um caixa com mais de cem revistas do Homem-Aranha. Um pouco depois, tive acesso a uma biblioteca e li As Cavernas de Aço de Isaac Asimov, logo em seguida, Duna, de Frank Herbert. Sendo que Duna li em apenas dois dias. Foi quando percebi que eu era um leitor. Esses e outros livros que li no início, eram do gênero Ficção Científica, pois meu cunhado gostava bastante e sempre me falava desses livros. 

Eu jogava RPG já há alguns anos, mas ainda não lera nenhum livro no gênero fantasia. Foi quando li Stormbringer de Michael Moorcock (uma edição portuguesa com o título A Espada Diabólica). Por sorte, na biblioteca pública de Belo Horizonte, havia uma boa quantidade de livros do Michael Moorcock e li todos que havia lá, entre estes, a série The History of the Runestaff e a trilogia das espadas, sobre o prínicipe Corum, uma das "encarnações" do campeão eterno (Elric, Erekosë, John Daker, os Von Beks, entre outros). Depois, nos quadrinhos, A Espada Selvagem de Conan também foi uma grande inspiração.

Só fui ler Tolkien um pouco mais tarde, mas certamente, também se tornou uma forte influência em minha escrita. Antes dele, tem um autor que escreveu várias séries de romances para Dungeons & Dragons chamado Troy Denning, que também adoro. Principalmente seu pentateuco do cenário Dark Sun, The Prism Pentad. Em tempos mais recentes, fiquei conhecendo Brandon Sanderson e Diana Wynne Jones, Marion Zimmer Bradley (principalmente a série Darkover). Por último, não posso deixar de citar Joe Abercrombie e suas trilogias: Primeira Lei (O Poder da Espada) e do Mar Despedaçado. Ainda poderia citar Fritz Leiber, Ursula K Le Guin e outros. Não posso deixar de falar dos colegas que escrevem fantasia aqui no Brasil. A série Chamas do Império de Diego Guerra e O Castelo das Águias de Ana Lúcia Merege são simplesmente imperdíveis!

De fora da literatura de gênero, também são grandes influências Dostoiévski, James Clavell, Oscar Wilde, Rubem Fonseca e Joseph Campbell.

2 - Conte um pouco sobre o seu contato inicial com o mundo fantástico e como ele te cativou.

Meu contato inicial com o mundo fantástico foi através dos filmes, O Cristal Encantado (1982) e A Lenda (1985), do desenho Caverna do Dragão (chegou ao Brasil em 84) e depois através do RPG. Comecei a jogar Dungeons & Dragons em 1988 e continuo jogando RPG (outros sistemas) até hoje. Não sei se seria possível reproduzir a sensação, atualmente, mas as ilustrações que havia nos livros de jogos de RPG de artistas como Larry Elmore e Keith Partinson faziam agente mergulhar nesse universo bem mais que qualquer outro filme ou desenho que havia na época. É claro que só fui ter acesso à mais material de fantasia, anos mais tarde. Mas eu diria que fui capturado por essa "narrativa visual" criada pelas imagens poderosas desses artistas.

3 - Falando sobre RPGs, qual o seu sistema favorito e por quê? Há alguma "estória de guerra" de alguma de suas partidas que gostaria de partilhar conosco?

Meu sistema favorito é o GURPS, mas tenho apreço pelos RPGs da Palladium Books (Rifts, Robotech, Beyond the Supernatural e Palladium Fantasy). Eu gosto do GURPS por conseguir trazer um lastro de realismo para os jogos. Me incomodava um pouco como coisas muito incoerentes aconteciam com frequência em outros sistemas. Sobre uma "estória de guerra" são tantas... Eu tive sorte de poder jogar um conjunto de campanhas de longa duração (mais de 10 anos) com alguns grupos de amigos. Não tenho uma história específica para trazer (iria demandar muita contextualização), mas gosto da ideia de que jogamos uma campanha que teve diversos arcos ao longo de muitos anos (dentro e fora do jogo) e que teve uma conclusão bem legal, onde os jogadores tiveram que pagar sua passagem de volta de um dos infernos, com o sacrifício de um dos protagonistas.
 
4 - A cena fantástica no Brasil vem timidamente crescendo hoje em dia. Como você vê esse crescimento e quais obras ou iniciativas vem chamando a sua atenção?

Sim, a literatura fantástica tem crescido bastante. Tem muitos livros bons e quadrinhos também. Já citei o Diego Guerra e a Ana Lúcia Merege. A série Tempos de Sangue do Eduardo Kasse também vale ser lembrada. Você tem o universo A Bandeira do Elefante e da Arara de Christopher Kastensmidt, muitas antologias legais da Editora Draco e Argonautas (agora a série Multiverso Pulp da Avec Editora). O Auto da Maga Josefa de Paola Siviero, o cenário de RPG Legião, a Era da Desolação, de Antonio Sá Neto e Newton Nitro os livros do André Vianco, Leonel Caldela, Karen Soarele e a série O Espadachim de Carvão, de Affonso Solano. Sei que há inúmeros escritores e escritoras de fantasia em pequenas (ou grandes) editoras, ou ainda, independentes esperando para serem conhecidos. Tenho vários no meu radar, falta mesmo o tempo para ler tantas obras.
 
5 - Você já vem escrevendo há bastante tempo, inclusive, já foi ganhador de prêmios internacionais com suas obras, fale um pouco sobre elas.
 
Sim, comecei a escrever em 1996, meu primeiro romance, Olhos Negros (2000), de forma "acidental". Eu não pretendia escrever um livro, mas sim fazer um mangá. Infelizmente (ou felizmente) eu não conseguia desenhar a história do jeito que imaginava. Para não deixar a história escapar, comecei a escrever em prosa e quando percebi, havia escrito meu primeiro romance. Anos depois, lancei Olhos Negros para download na internet, muito antes de haver plataformas como o Wattpad. Tive muitos leitores dessa época que se comunicavam comigo por e-mail ou pelo meu blog, Selo Multiversos. Em 2014 entrei no Wattpad e em 2015, Olhos Negros foi um dos vencedores do prêmio internacional The Wattys. Ele ganhou numa categoria chamada "Tesouros não descobertos". Considerando a dinâmica da própria plataforma, dá pra falar que ele continua "não descoberto" até agora, rsrs. 

Olhos Negros é o primeiro livro de uma série que se passa no universo ficcional chamado Terra das Nove Luas. É a história de um jovem cavaleiro que vê seu reino ser tomado por um golpe de estado (secreto) feito por uma sociedade de necromantes. Isso é apenas o início da história, que evolui em três volumes, para a retomada de uma fase sombria para todos os reinos do mundo. Digo retomada, pois a história da HQ Quill, se passa no passado, no período mais sombrio que esse mundo já viu, até então. A série é composta pelos seguintes romances: Olhos Negros (2000), Maré Vermelha (2004), Oráculo Esquecido (2012), Herdeiros de Kamanesh (2017) e O Coração de Tleos (2021).

Além dessa série, tenho outra chamada Crônicas Delorianas. O primeiro livro, Os Óculos Indesejados de Ilya Gregorvich (2017) foi também vencedor do The Wattys em 2019, desta vez, na categoria Ficção Científica. O detalhe é que o livro mistura elementos de fantasia e ficção científica. Conta a história de Ilya, um estudante de matemática que passa a ser perseguido depois que encontra um par de óculos mágicos que contém segredos que interessam ao serviço secreto do governo de seu país e ao crime organizado. Nesse universo, os homens foram escravizados por uma espécie alienígena usuária de magia, mas conseguiram se libertar ao estudar a magia sob o prisma da ciência e industrializá-la. 

Meu romance mais recente, O Velho e a Devoradora de Almas, é fortemente influenciado por Michael Moorcock, nela, o protagonista é um velho que tenta sobreviver a uma grande tragédia. Faz parte da trama a espada Vortumbra, item amaldiçoado feito no passado para combater o implacável Deus-Dragão. É um livro de fantasia com um toque sombrio, diálogos bem humorados, magia, criaturas fantásticas e situações surpreendentes. Uma estória que foge dos padrões com protagonistas heroicos jovens e virtuosos, escolhidos profetizados, mocinhas em perigo, triângulos amorosos e finais felizes.

6 - Atualmente, a campanha da HQ "Quill, O exterminador de demônios", uma parceria entre você e o desenhista Fabrício Santos, está rolando no Catarse. Gostaria de se aprofundar um pouco mais no universo da obra?

Venho desenvolvendo esse projeto com o Fabrício desde 2019. Baseada no romance de mesmo nome, a HQ conta a história do elfo Quill, um jovem que luta para tentar evitar o fim de seu mundo, invadido por um sem número de hordas demoníacas. O grande problema é que os demônios corrompem outros seres para aumentar seus números. E o pior: quando derrotados, renascem após pouco tempo, tornado-os inimigos muito difíceis de vencer. 

A HQ Quill, o exterminador de demônios, impressa, terá 3 partes. O volume 1, terá 80 página e narra a juventude de Quill. Tudo começa quando os Vetmös, uma casta de ambiciosos magos humanos, na ânsia de expandir seus poderes, se comunicaram com seres de outras dimensões. Estes seres os auxiliaram a copiar o projeto das dez torres de Trinidacs, o que permite captar energia mágica das luas para criar portais dimensionais. Só com o mecanismo pronto, descobriram que foram ludibriados pelos demônios. Os seres que prometiam ensinar os mais altos segredos da magia, abrem portais para os quatro infernos de onde numerosas hordas saem dando início a uma longa guerra mundial.

No início da história, Quill é um marujo inexperiente e enfrenta as hordas pela primeira vez. Ele começa a descobrir que possui um poder que poderá alterar o curso da guerra. Sua primeira missão é levar raros cristais mágicos até a grande forja do Monte Hostenoist. Os aliados estão organizando suas defesas e para isso reuniram seus mais poderosos magos para forjar armas e armaduras mágicas para fazer frente aos invasores. Mas esse é apenas o primeiro passo de sua jornada, ele terá que lidar com seus próprios demônios internos enquanto se depara com inimigos cada vez mais poderosos.

A campanha está no Catarse e busca apoiadores para virar realidade. 
 
7 - Onde os leitores podem conhecer melhor o seu trabalho?
 
Alguns de meus livros estão à venda na Amazon. Por vezes,  faço artigos sobre minhas obras no meu blog, Selo Multiversos. Uma opção também é conhecer meu trabalho através da plataforma Wattpad. Há vários livros completos lá que podem ser lidos de forma gratuita (mas a plataforma contém anúncios). Terminou agradecendo o espaço aqui na Masmorra Mítica e desejando muito sucesso ao blog!
 


A campanha no Catarse já está na sua reta final, então agora é hora!
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