sábado, 7 de maio de 2022

Três Viajantes, por Thiago Tizzot - Muitas promessas, poucos resultados

   Certa vez, me encontrei em um daqueles dias, em um fim de semana onde não havia absolutamente nada para se fazer, o tédio vai te consumindo lentamente e as decisões impulsivas e carentes de pensamento profundo te levam até lugares e situações inusitadas. Naquela ocasião, me peguei fazendo algo que (por razões sólidas) não tenho costume. Assistir vídeos de "booktubers" e buscar recomendações de livros de fantasia, em especial, de autores nacionais.

    Quem acompanha o blog ou me conhece pessoalmente, sabe muito bem que eu tenho gosto um tanto "nichado" e que mesmice pra mim não rola. Portanto, essa minha decisão de recorrer ao Youtube em busca de recomendações já pode ser vista como uma má ideia.

    Depois de passar por vários vídeos de canais diversos, lembro-me de ter chegado até um canal onde uma moça fez algumas sugestões de autores menos conhecidos que traziam em seus respectivos trabalhos os ares de aventura de uma boa partida de RPG.

    Um dos títulos que ela ressaltou foi "Três Viajantes" de Thiago Tizzot, um nome que deve soar familiar para alguns dos leitores. Pois, Sr. Tizzot foi responsável pela coletânea de contos "Crônicas de Espada e Magia", que compilou contos de nomes de peso como George R. R. Martin, Robert E. Howard e Michael Moorcock, até autores mais underground, mas de igual quilate como Karl Edward Wagner. Um trabalho digno de nota, com toda a certeza, mas, tratando-se de "Três Viajantes", a coisa já vai degringolando aos poucos.

    Livro adquirido, leitura iniciada em seguida, problemas começaram a surgir logo nas primeiras páginas. Essa é minha experiência com "Três Viajantes" resumida em apenas uma frase, mas vamos lá, melhor explicar onde quero chegar com mais detalhes.

    "Três Viajantes" é um livro um tanto curto, apenas 139 páginas, portanto, trata-se de uma leitura rápida, ainda mais pelo fato da diagramação do livro ser um tanto parca em cada página, já que há um recuo considerável nas bordas e a fonte utilizada é um pouco maior do que o habitual.

    A arte da capa também é bonita, e apesar de simples, e funciona bem na proposta. E apesar do ar meio "genérico", gosto dos pequenos detalhes presentes. Por exemplo, a arte completa só pode ser vista com o livro físico em mãos, pois ela se alastra para as dobras da capa, bem legal de se ver.

    Agora que já tirei os elogios da frente, vamos aos meus problemas com "Três Viajantes", e cacetada, são vários!
    Vamos por partes...

    Em primeiro lugar, "Três Viajantes" é um livro que não se decide sobre o que quer ser e que não cabe dentro de si mesmo. O que acontece aqui é um caso seríssimo de inchaço no texto, já que temos três protagonistas, um mundo gigantesco e com uma mitologia que expande séculos de história e vários coadjuvantes que não são nada além de "acessórios" para impulsionar os heróis na direção em que a história demanda. Valendo lembrar que não estamos falando de uma grande saga que se expande por vários tomos, mas sim num livro de bolso de 139 páginas.

    Outra coisa que me incomoda são os ditos "protagonistas", já que nenhum deles tem sequer uma mísera característica que seja marcante de forma positiva.
    Para que entendam melhor onde quero chegar, não consigo nem mesmo lembrar os nomes desses personagens, tudo que consegui reter deles foi "mago que fuma", "elfo" e o não menos importante "alquimista que faz par romântico com a coadjuvante do segundo ato", ou como eu preferi chamá-lo "o cara que não é o mago", já que eu passei vários momentos do texto confundindo os dois, já que eles eram tão indistintos um do outro que chegava a ser triste.

    O que nos leva ao terceiro problema gritante aqui, o texto por si só. Eu entendo, estamos falando de um lançamento praticamente independente, MAS CACILDA, cadê a revisão? Quase toda página conta com algum erro de digitação ou coisa similar, que poderiam ter sido facilmente corrigidos durante uma revisãozinha bem singela e simples. No entanto, esse ainda não é o meu maior problema com o texto, mas sim a repetição que permeia página, após página, após página, com informações maçantes e desnecessárias para a história.
    Para ilustrar melhor o que quero dizer, voltemos a um dos nossos carismáticos protagonistas, em específico, o mago fumante. Onde 99% das vezes em que ele aparece, temos de ler "e ele colocou o fumo em seu cachimbo" ou "ele fumava nervosamente seu cachimbo" ou ainda "ele fazia grandes nuvens de fumaça com o seu cachimbo". Não querendo fazer graça, mas esse tipo de artifício textual ficou tão repetitivo durante a leitura que tudo que me passava pela cabeça era "Vixi, esse vai ter câncer". E, sinceramente, que desagradável é ter que ler a cada página a mesmíssima coisa uma vez após a outra, só mudando algumas palavras aqui e ali.
    Esse tipo de artimanha não move a trama para frente, não engaja o leitor e não torna o personagem mais relacionável, apenas torna o texto chato de se ler.

    Vamos à história, onde, basicamente, temos esses três viajantes em busca de um fonte de sabedoria e poder incomparável, mas estão sendo constantemente perseguidos por um déspota que almeja o mesmo objetivo. Após sua fuga alucinada das masmorras do castelo do supracitado vilão, nosso grupo de heróis vai de encontro com uma elfa bibliotecária que lhes aponta a direção onde progredir. Basicamente, o livro se resumi a um constante "vá até lá e faço aquilo e venha até aqui e faça isso". E a conclusão não poderia ser mais anticlimática.

    O que me chateia aqui é o fato de que há sim um mundo interessante em "Três Viajantes", mas este não cabe dentro de 139 páginas!
    De novo, sou obrigado a me repetir, pois, esse é um livro curtinho em que a própria história e o mundo em que ele se situa, não cabem dentro dele!
    A proposta é boa, mas a execução peca em tantos níveis, que, infelizmente, meu interesse em checar mais trabalhos do autor é mínimo.

Comparar esse livro com uma partida de RPG tem sua valia, mas não da maneira que se imagina a priori. Pois, não estamos falando de uma partida épica e bem estruturada, mas sim de uma daquelas em que o mestre não se preparou em nada e está improvisando conforme as coisas vão acontecendo, tornando o jogo cada vez mais desinteressante.

Enfim, falando francamente, existem muitos outros autores nacionais que são dignos de sua atenção. Até creio que outros títulos do Sr. Tizzot podem ser melhores que o livro em questão, mas a verdade absoluta aqui é que "Três Viajantes" não é um bom livro.

    Mesmo assim, se caso ainda houver uma centelha que seja de interesse em você para conferir "Três Viajantes", minhas considerações finais são a seguintes:

    Por ser tão curto, o livro pode ser terminado em um ou dois dias e a despeito de sua tantas falhas, o livro ainda entretém, mesmo que bem pouco, dentro da sua proposta.
    Fica ao seu critério (e risco) encarar essa...

NOTA :  1,2

Um comentário:

  1. Tinha ficado curioso pelo livro... realmente a arte da capa é interessante... mas depois de ler esse review, vou pensar duas vezes haha. Excelente postagem Dante!

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