Anos atrás, não me considerava um grande entusiasta de HQs. Lembro bem que foi em 2018, com o anúncio da republicação de "A Espada Selvagem de Conan" em formato capa dura, pela editora Panini Comics, que meu interesse na mídia em questão foi reaceso.
Eu não lia uma HQ já fazia mais de dez anos, mas desde 2018 até hoje, em meados de 2022, a situação mudou drasticamente.
Minha coleção já passa dos quatrocentos itens, indo desde os saudosos formatinhos, até álbuns de luxo e omnibus(es) (esse diabo de palavra tem plural?).
E foi durante essa mesma época que a Marvel Comics havia readquirido os direitos de publicação das HQs do personagem. Algo que (logicamente) foi motivo de muita conversa entre os fãs do cimério.
Pois, foi na Marvel onde Conan foi apresentado para tantos leitores ao decorrer dos anos e imortalizado em séries de excelente qualidade. Mas ainda assim, dado o cenário atual do mundo, as HQs sofreram mudanças drásticas em suas narrativas, o que fez muitos fãs ficarem um tanto apreensivos com a volta do bárbaro para a casa das ideias.
Pois, foi na Marvel onde Conan foi apresentado para tantos leitores ao decorrer dos anos e imortalizado em séries de excelente qualidade. Mas ainda assim, dado o cenário atual do mundo, as HQs sofreram mudanças drásticas em suas narrativas, o que fez muitos fãs ficarem um tanto apreensivos com a volta do bárbaro para a casa das ideias.
Particularmente, como eu estava apenas retornando para o universo das HQs, decidi manter a cabeça aberta.
Em primeiro lugar, eu decidi conhecer melhor o trabalho do roteirista encarregado de trazer Conan de volta as páginas da Marvel.
Sr. Jason Aaron, que até então foi aclamado pelo seu run a frente do poderoso Thor. Uma fase que teve seus altos, bem altos, inclusive, e baixos de dar vergonha.
Mas além do Sr. Aaron, a Marvel também anunciou um lançamento conjunto de um segundo título. Basicamente, um "revival" da magnífica "Espada Selvagem", e com uma proposta que julguei deveras interessante. Já que haveria uma rotação constante de roteiristas e artistas trabalhando no título.
Valendo o adendo de que tanto Conan como outros personagens oriundos da mente de Robert E. Howard também tiveram minisséries e aparições em outros títulos um tanto inusitados.
Tudo isso parece muito legal até agora, mas o que importa de verdade aqui é que essa semana recebemos a notícia de que a Marvel Comics não seria mais detentora dos direitos do bárbaro favorito de todos, e que a Conan Properties International (CPI daqui em diante) tem a intenção de começar sua própria linha de revistas baseada no universo de Howard.
Meu intuito com esse artigo é, acima de tudo, fazer uma análise de (quase) tudo que foi publicado pela Marvel referente ao mundo hiboriano, nesses quatro anos em que a tanga peluda do cimério enfeitou suas páginas.
Já ressalto que não li absolutamente tudo que foi lançado personagem durante esse período. No entanto, pelo menos 80% do que foi publicado já foi devidamente consumido por este que vos escreve.
Nessa primeira parte de uma série de artigos que tenciono publicar nas próximas semanas, vamos analisar * SEM (MUITOS) SPOILERS * cada um dos títulos que contou com a ilustre presença de personagens criados por Howard, nesses quatro anos de Marvel Comics.
Começando, obviamente, com o título principal, "Conan, O Bárbaro" por Jason Aaron e Mahmud Asrar
Conan, O Bárbaro - Jason Aaron & Mahmud Asrar (primeira fase)
A reapresentação do cimério na Marvel foi feita com muitos floreios, já que logo na primeira edição da nova série temos uma página dupla que retrata os saudosos momentos do bárbaro na sua primeira passagem pela editora durante os anos 70.
Algo que traz a nostalgia e a nos deixa no mindset correto para adentrar ao mundo hiboriano, cheio de brutalidade e de aventuras.
A arte de Mahmud Asrar funciona muito bem para retratar a violência tão visceral das estórias de Conan, sem falar que a escolha do artista croata, Esad Ribic, como capista para a série não poderia ser mais acertada. Pois, ambas se complementam perfeitamente.
Falando agora sobre a questão dos roteiros, é aí que a situação já não é tão harmoniosa quanto se espera. O Sr. Jason Aaron se tornou um dos grandes nomes entre os escritores modernos de HQs por bons motivos. Ele tem uma cadência e peso em seus textos um tanto impares quando comparado aos seus contemporâneos. No entanto, ele tem um hábito que, por vezes, pode ser tido como inusitado por uns e irritante por outros.
Trata-se da insistência em quebrar paradigmas dentro do status quo dos personagens com quais ele trabalha, que muitos veem
até
como um desrespeito aos mesmos. Por exemplo, tornar Thor, o mais poderoso e honroso dos vingadores, indigno de erguer seu martelo e ainda por cima passar o "título" de deus do trovão para outro personagem, no caso, sua ex-namorada, Jane Foster.
Um rumo para a estória que foi recebida com divisão entre os fãs, mas, particularmente, a explicação do porque de Thor se tornar indigno e o transcorrer da fase que, obviamente, verá o deus do trovão retornar ao seu devido lugar, foi do meu agrado.
Apesar do início magnânimo e do final fraquinho, foi uma boa fase, mas nem de longe chega sequer aos pés do seminal run de Walt Simonson no personagem. Comparação essa que é feita constantemente e, na real, apenas não...
Mas focando em sua fase a frente do título de Conan, Sr. Aaron come bolas quase que imperdoáveis para os fãs antigos do personagem, e por tanto, todo aquele apelativo nostálgico da página dupla na abertura cai por terra.
É claro que o Sr. Aaron tem um talento imenso para a escrita, mas não consigo deixar de pensar que muitas das decisões editoriais tomadas por ele foram feitas dentro de uma sala de reunião, como um bando de produtores e outros sujeitos da mesma laia que só "retocam" o texto, infelizmente, para muito, mas muito pior.
Diferente do que foi feito com Thor, aqui não veremos mudanças tão drásticas (a primeira vista) para um novo leitor de Conan, mas para os fãs das antigas (que acredito ter sido o público alvo da nova revista), as inconsistências com as estórias originais são gritantes e, dessa vez sou obrigado a concordar, desrespeitosas não apenas com o personagem, mas com o próprio autor, Robert E. Howard.
Não vou entrar no mérito das questões sociais e culturais do mundo moderno, mas aplicá-las num mundo fantástico já estabelecido a mais de 70 anos atrás é quase desonesto, a meu ver.
Sei muito bem que hoje em dia tratar temas como "ódio racial", que era uma constante nas histórias de Conan, pois os cimérios e os pictos eram duas raças distintas que guerreavam por incontáveis gerações, pode ser um tanto arriscado. A temida cultura de cancelamento tá aí e ninguém quer ser pego por ela. Mas na real, por que RAIOS os pictos salvariam, se tornariam aliados e lutariam sob o comando de Conan da ciméria?
Cacetada, não há outra motivação além da boa e velha "passada de pano" para tornar o personagem mais facilmente consumível para o público mais "frágil" de hoje.
Sem contar ainda tantas outras pisadas na bola por parte do Sr. Aaron, pois está evidente que ele não é muito familiar com a obra de Howard. Já que seres míticos aparecem em abundância absurda e conceitos já estabelecidos são alterados a seu bel-prazer ou simplesmente ignorados, simples assim.
Em uma média geral, não recomendo esse run para os fãs mais antigos de Conan. Apesar dos desenhos magníficos, e até mesmo da estória si também, que é ótima. Mas toda a fase é permeada de tropeços e decisões editoriais que, no mínimo, iram perturbar o leitor mais exigente.
Caso você não conheça Conan e queira uma introdução ao personagem rápida e de fácil acesso, essa fase pode até ser tida como "adequada"(com aspas ENORMES). No entanto, ainda acredito que existam introduções melhores ao mundo hiboriano.
Conclusões:
Prós :
*Arte espetacular e estória cativante
*Arte espetacular e estória cativante
*Cada edição ainda conta com um conto curto no final de cada revista.
*As cenas de ação e combate são plenas e em grandes proporções.
*Uma tentativa de escrever uma estória nova para o personagem.
Contras:
*A falta de coesão com as histórias originais, beira o amadorismo.
*Decisões editoriais que em nada contribuem para a estória ou para o personagem.
*A falta de pesquisa por parte do roteirista é evidente.
NOTA FINAL: 3 / 5
* Na real, ainda acredito que estou sendo generoso com essa nota, pois, fãs mais ávidos do que eu, nem sequer se deram ao trabalho de lê-la.
Mas os ótimos desenhos e a trama que, apesar dos incontáveis problemas, ainda cativam e tem seu valor aqui e ali.
E é isso aí por ora, na semana que vem volto com mais alguns títulos e veremos se a coisa melhora.
Até lá!
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