segunda-feira, 25 de abril de 2022

Entrevista : Kramp - Uma conversa com Mina Walkure, a voz de uma das grandes promessas do true heavy metal atual


     Nos últimos anos, muitas bandas tem carregado a bandeira do verdadeiro heavy metal com uma paixão que não se via no gênero há muito tempo.
    No mundo todo, esse boom do novo true metal tem revigorado a cena e revelado nomes de peso e que prometem ser dr de fato àqueles que carregaram o heavy metal para o futuro, sem comprometer as raízes do estilo.

    Kramp é um dessas bandas que, ao meu ver, serão tidas como um dos clássicos modernos e que serão responsáveis por perpetuar, não apenas musicalmente, mas também, toda uma questão estética que ainda perdura no gênero.

    Tive a oportunidade de bater um papo com a vocalista e mentora da banda, Mina Walkure, onde conversamos de forma muito bem humorado sobre a história da banda e sua paixão e experiências não apenas como o metal, mas com a espada e feitiçaria.

Boa leitura!

DISCLAIMER: An English version of this interview can be found below, after the portuguese version, you're welcome!

I – Olá Mina, em primeiro lugar, muito obrigado por seu tempo. Conte-nos um pouco sobre a história da Kramp.

 

Eu estava ansiosa para fazer música, e sendo maníaca por metal, a ideia de formar uma banda de heavy metal tradicional virou uma obsessão, hahah.

Alguns anos antes disso, perguntei ao meu irmão se ele queria tocar baixo para participar de outro projeto e foi assim que ele começamos a tocar.

A certa altura, decidi que era hora de formar uma banda do zero, por volta de 2010. Uma banda com minha própria visão, e nós dois começamos a procurar músicos. Não foi uma tarefa fácil, já que nossa cidade é bem pequena (e de mente fechada). Mas conseguimos encontrar alguns membros para começar uma turnê e gravar algumas demos.

Anos depois, estávamos sozinhos novamente, e decidi me mudar para a capital da Espanha, para Madri, para encontrar músicos e continuar trabalhando!

A história da banda é bem longa. hahaha.

Em 2016 lançamos nosso primeiro lançamento oficial: Wield Revenge. E até o final de 2020, nosso primeiro álbum: Gods of Death!

 

II – Quais as suas influências além da música? Que outras coisas lhe fizeram querer convertê-las em heavy metal?

 

Acho que era um pacote completo… Cresci nos anos 90, quando ainda havia uma influência óbvia do metal na mídia. Pelo menos na Espanha, que se atrasou um pouco a festa em termos de cultura pop. hahaha.

Lembro-me, por exemplo, de ter 3 anos e assistir Bikers Mice From Mars, e os personagens parecem ter escolhido suas roupas do armário do Rob Halford! Além do fato de que, ninguém menos que Jeff Scott Soto foi o responsável pela trilha sonora!!!! (quando descobri, estava na minha idade adulta e foi um momento alucinante)

Depois, outras séries populares, como Xena: A princesa guerreira. Aliás, essa pode ser minha primeira influência, na minha infância, para depois ser uma doida do heavy metal épico e armaduras de couro. hahahah.
Mais uma vez, as roupas estavam no ponto, e muito perto de algumas das minhas bandas favoritas, como Omen ou Running Wild!

E a arte… quando eu era adolescente, o ilustrador Luis Royo estava em voga aqui. Você sabe, a escola clássica de Frazetta, mas com seu próprio toque.

Devo admitir que ele é um pouco demais para o meu gosto, mas foi muito impressionante, e sua arte me levou a descobrir outros artistas incríveis desse estilo de fantasia.

 

III – Metal e fantasia estão fundidos desde a sua concepção. Como você vê essa conexão entre os mundos do heavy metal e da fantasia?

 

Bem, na pergunta anterior eu mencionei Frazetta, e de alguma forma acho que ele é o principal culpado do nascimento do heavy metal como estilo musical!!!! Ele é a principal influência da maioria dos ilustradores que marcaram o heavy metal.

Eu sempre gosto de celebrá-lo, mas imagine… sem ele, e suas ilustrações icônicas de Conan, entre outras, bandas como Manowar, não teriam desenvolvido sua imagem.

Ainda por cima, porque seu sobrinho, Ken Kelly, foi mais tarde o autor das artes do Manowar. Além disso, ele fez algumas das obras de arte mais icônicas de todos os tempos, no rock e no metal… KISS, Rainbow…

Além das ilustrações, a fantasia sempre foi um interesse dos maníacos do metal: voltando ao personagem Conan, que inspirou o heavy metal dos quadrinhos, filmes e, claro, dos contos. Ou Michael Moorcock, que trabalhou com bandas como Hawkwind, e muitos outros se inspiraram diretamente em seus nomes (Tygers of Pang Tang, Eternal Champion, etc...), e claro que todo o mundo de J.R. Tolkien deixou uma grande marca em todos os sentidos e subgêneros do metal!

Se formos um pouco além, podemos conectar essa influência da “fantasia” à própria mitologia. Que é um assunto frequentemente usado por bandas para suas letras.

Poderíamos continuar por horas!!!!!

 

IV – O que abriu os seus olhos para o mundo da espada & feitiçaria? Quais os seus autores, filmes ou jogos favoritos?

 

Meu primeiro contato, pelo menos que eu me lembre, foram alguns desenhos como Príncipe Valente, hahaha. Segundo minha mãe, quando criança eu era apaixonada pelo personagem principal, mas vai saber, eu era um ser humaninho muito pequenino, hahaha.

Minhas memórias mais vívida são As Jornadas Lendárias Hércules e Xena: A Princesa Guerreira. Você sabe, não é pura espada e feitiçaria, mas eles se inspiraram na mitologia grega e deram uma reviravolta completa criando um universo inteiro. Foi muito legal assistir!

Um dos jogos que me marcou para sempre nessa área, foi Sacred. Acho que não é super conhecido, mas aos domingos, o jornal dava algumas coisas de graça ou por um dinheirinho extra. Meu pai veio um dia com aquele jogo e eu e meu irmão ficamos obcecados.

O jogo é um Diablo II pobrinho, sejamos honestos, mas quem se importa! Ainda amamos. Era ,uito divertido de jogar. (Curiosidade, teve um Sacred II que foi muito ruim, e Blind Guardian participou da trilha sonora)

Um dos meus favoritos. autores (além, é claro, de Robert E. Howard!!!!) é Fritz Leiber. Eu o descobri ao acaso, porque em um brechó encontrei alguns livros antigos do Conan, além de uma compilação de contos “bárbaros”, muuuuito barato. Caramba, foi uma boa caça ao tesouro, porque esses valem muito hoje em dia. A questão é que, graças a esse livro, descobri muitos autores incríveis, e Leiber era tão diferente!! Seu jeito de escrever é tão foda e punk, hahaha.

Adoro o espírito solene de outros autores, como Howard! Ele inspira aquela vibe poderosa e séria. Mas Leiber é mais caótico, um pouco malandro… Adoro!

E para filmes… oh Crom! Novamente citando Conan. Quem está surpreso até agora!??!?!?!?

Mas a lista pode ser interminável. De produções com qualidade super alta, a pura porcaria da série B, hahaha. Kull: The Conqueror, Dragonheart, Fire And Ice, Black Cauldron, Highlanders, Heavy Metal, Swords of the Barbarians… e assim por diante!

 

V – Além de ser a vocalista na Kramp, você também é responsável pelas artes, certo? Fale um pouco sobre a sua história com a arte e seus artistas favoritos, antigos e novos.

 

Uh! Eu faço toda a arte, sim, incluindo o design do merchandising.

Para ser justa, nunca me considerei boa o suficiente nesse departamento, mas sou uma nerd que adora design gráfico e… precisávamos economizar algum dinheiro para a arte.

No início da minha carreira, precisávamos de pôsteres, logotipos e toda essa merda. E, claro, eu não conhecia ninguém.

Uma das minhas chaves na vida é que, como não tenho as melhores habilidades sociais e não consigo encontrar facilmente pessoas para fazer algumas tarefas, eu resolvo essas tudo sozinha. Às vezes com mais sucesso que outras, hahaha.

Acho que isso ajudou a banda a ter uma identidade e um universo único para si, já que tudo está conectado e vem direto da mesma mente. Incluindo nosso poderoso esqueleto guerreiro, Atapurcio, que aparece em algumas das artes e merchans.

Essa arte vai um pouco além das ilustrações e também reflete em todos os projetos DIY que a banda tem: adereços de palco, cenográfia para vídeos, figurinos…

Minha arte é muito inspirada em Frazetta, Boris Vallejo, Clyde Caldwell, Ken Kelly, Joe Jusko e claro… ANDREAS MARSCHALL!!!!


VI – Kramp faz parte daquilo que tem sido chamado de “nova onda do true heavy metal”, como você vê a ressurgência do true metal ao redor do mundo e quais bandas novas você crê que todos deveríamos conhecer?

 

Adoro ver este som mais forte do que há alguns anos. Quando eu era adolescente, com fome de viver do heavy metal tradicional, eu não encontrava nada além de risadas, porque o gênero estava “desatualizado”. Era difícil encontrar colegas dentro do mesmo nicho, e bandas atuais fazendo o mesmo estilo.

Mas então: BAM, o mundo explodiu com esse movimento.

Bandas não tão jovens, mas algumas que eu adoro são: Blazon Stone, Visigoth, Iron Fate, Wytch Hazel, Evil Invaders… oh, muitos nomes!!


VII – Gods of Death já foi lançado há dois anos, como tem sido a sua recepção? O que podemos esperar para do futuro da Kramp?


A recepção tem sido incrível! Foi lançado em um momento muito arriscado, em plena pandemia, sem nada garantido. Mas você sabe, nós somos filhos da puta bárbaros prontos para correr riscos!!!!!!

Foi incrível do momento zero. Todos pareciam adorar o álbum, e mesmo tendo sido lançado no final do ano, ele conseguiu entrar em muitas listas de “melhores álbuns do ano”. Os discos de vinil esgotaram muito rápido.

A parte triste é que nunca tivemos a oportunidade de fazer uma turnê com este álbum, e isso é uma merda.

Estamos preparando muitas coisas e surpresas para o futuro próximo. Espere algumas mudanças, mas não tenha medo.

A ambição e a paixão crescem a cada dia!!!


VIII – Mina, mais uma vez lhe agradeço a atenção. O espaço é seu para deixar uma mensagem para os fãs brasileiros (e do mundo todo também).

Saudações a todos vocês meus amigos! O Brasil é um país que sempre continua trazendo ótimas bandas e alguns do maníacos mais dedicados que existem!

Fiquem ligados para mais música por vir e UP THE HAMMERS!

 ENGLISH VERSION :

 

I - Hello Mina, first of all thank you very much for your time. Tell us about the history of Kramp.

 

I was eager to make music, and being a metal maniac myself, the idea of forming a traditional heavy metal band became an obssession, hahah.

Some years before that, I asked my brother if he wanted to pick the bass to join another project and that’s how he started to play.

At one point, I decided it was time to form a band from scratches, around 2010 or so. A band with my own vision, and we both started to search for musicians. Not an easy task, since our city is quite small (and close minded). But we managed to find some members to start touring and recording some demos.

Years later, we found ourselves alone again, and I decided to move to the capital of Spain, to Madrid, to find musicians and keep working our asses off!

The history of the band is quite long hahaha.

In 2016 we published our first official release: Wield Revenge. And by the end of 2020, our first album: Gods of Death!


II - What are your Influences beyond music? What other things made you want to "convert" them into heavy metal?

I guess it was a whole package… I grew up in the 90s, when there was still an obvious metal influence in the media. At least in Spain, which was a bit late to the party in terms of pop-culture, hahaha.

I remember, for example, being 3 years old and watching Bikers Mice From Mars, and the characters seem to have picked clothes from Rob Halfords closet! Besides the fact that, none other than Jeff Scott Soto was in charge of the soundtrack!!!! (when I found out, was in my adult years and it was a mindblow moment)

Then other popular issues, like Xena: The Warrior Princess. In fact, that may be my first influence, in my childhood, to later be an epic heavy metal maniac and leather armors hahahah. Again, the outfits were on point, and very close to some of my fav. bands, such as Omen or Running Wild!

And the art… when I was a teenager, the illutrator Luis Royo was on vogue here. You know, classic school of Frazetta, but with his own twist.
I must admit that he’s a bit too much for my taste, but it was very impressive, and his art lead me to discover other amazing artists of that fantasy style.

 

III - Metal and fantasy had been fused since its birth  How do you see the connection between the worlds of heavy metal and fantasy?

Well, in the previous question I mentioned Frazetta, and somehow I think he’s the main guilty of the born of heavy metal as a music style!!!! He is the main influence of most of the illustrators that left a mark in heavy metal.

I always like to celebrate him, but imagine… without him, and his iconic Conan illustrations, among others, bands such as Manowar, would not have developed his image.

More on, because his nephew, Ken Kelly, was later the author of those Manowar artworks. Plus, he did some of the most iconic artworks EVER, in rock and metal… KISS, Rainbow…

Besides illustrations, fantasy was always an interest for metal maniacs: going back to the Conan character, who inspired heavy metal from comics, movies, and of course the tales. Or Michael Moorcock, who worked with bands such as Hawkwind, and many others took direct inspiration for their names (Tygers of Pang Tang, Eternal Champion, etc...), and of course the whole world of J.R. Tolkien left a huge mark in every way and metal subgenre!

If we go a bit beyond, we can connect that “fantasy” influence to mythology itself. Which is a subject often used by bands for their lyrics.

We could go on for hours!!!!!


IV - What opened your eyes for the world of sword & sorcery? Do you have any favorite authors, movies or games?

My first contact, at least that I remember, were some cartoons such as Prince Valiant, hahaha. According to my mother, I was a toodler in love with the main character, but who knows, I was a very tiny human, hahaha.

My most vivid memory are Hercules: the Legendary Journeys, and Xena: The Warrior Princess. You know, it’s not pure sword & sorcery, but they took that inspiration on greek mythology and give a full twist creating a whole universe. It was so cool to watch!

One of the games that marked me forever in that area, was Sacred. I guess is not super known, but on sundays, the newspaper was giving some stuff for free or for little extra money. My father came one day with that game and both, my brother and I, were obssesseeeeed.
The game is a poor Diablo II, let’s be honest, but who cares! We still love it. Very fun to play. (Fun fact, there was a Sacred II that sucked a lot, and Blind Guardian participated on the soundtrack)

One of my fav. authors (besides of course Robert E. Howard!!!!) is Fritz Leiber. I discovered him very randomly, because on a thrift store I found some old Conan books, plus a compilation of “barbarian” tales, sooo cheapppp. Damn, that was a good treasure hunt, because those worth a lot nowadays. The thing is that, thanks to that book, I discovered many awesome authors, and Leiber was so different!! His way of writing is so badass and punk, hahaha.
I love the solemn spirit of other authors, such as Howard! He inspires that mighty serious vibe. But Leiber is more chaotic, a bit rascal… I love it!

And for movies… oh Crom! Again quoting Conan. Who’s surprised so far!??!?!?!?
But the list can be endless. From high productions with super quality, to pure serie B crap, hahaha. Kull: The Conqueror, Dragonheart, Fire And Ice, Black Cauldron, Highlanders, Heavy Metal, Swords of the Barbarians… and it goes on and on! 

 

V- Beyond being the singer for Kramp, you also take care of the art, right? Tells us a little about your history with art and what are some other artists,  new & old, that you admire.

 

Uh! I do all the art, yes, including merch design.
To be fair, I never considered myself good enough on that department, but I’m a nerd who loves graphic design, and… we needed to save some money for the art.

At the beggining of my career, we needed posters, and logos, and all that shit. And of course, I did not know anyone.
One of my keys in life is, that since I don’t have the greatest social skills and can’t easily find people to do some tasks, I jump in and solve those myself. Sometimes with more success than others, hahaha.

I think that helped the band to have a unique identity and universe for itself, since everything is connected and comes straight from the same mind. Including our mighty skeleton warrior, Atapurcio, who is featured in some artworks and merch.
This art goes a bit beyond illustrations and also reflects on all the DIY projects that the band has: stage props, costume designs for videos, outfits…

My art is very much inspired by Frazetta, Boris Vallejo, Clyde Caldwell, Ken Kelly, Joe Jusko and of course… ANDREAS MARSCHALL!!!!

VI - Kramp is part of has been called the "new wave of true heavy metal", how do you see this ressurgence of true metal around the world and what new bands do you believe everyone should check out?

I love seeing this sound stronger than some years ago. When I was a teenager, hungry to make a living out of traditional heavy metal, I found nothing but laughs around, because the genre was “outdated”. It was hard to find collegues within the same niche, and current bands doing the same style.

But then: BAM, the world exploded with this movement.

Not so young bands, but some that I love are: Blazon Stone, Visigoth, Iron Fate, Wytch Hazel, Evil Invaders… o many names!! 

 

VII - Gods of Death has been out for around two years now, how has the reception for it been?
What can we expect for Kramp's future?

The reception has been amazing! It was released in a very risky moment, in the middle of the pandemic, with nothing assured. But you know, we are barbarians motherfuckers ready to take risks!!!!!!

It was amazing from momento zero. Everyone seemed to love the álbum, and even though it was released by the end of the year, it managed to sneak into many lists of “best albums of the year”. Vinyls sold out pretty quick.

The sad part, is that we never had the opportunity to tour with this álbum, and that sucks.

We’re preparing many things and surprises for the near future. Expect some changes, but don’t be scared.
The ambition and passion grows every day!!!

 

VIII- Mina, thank you very much once again.
The space is yours to leave a message for the Brazilian fans (and fans worldwide too).

Greetings to you, my fellow friends!! Brazil is a country that always keeps bringing great bands and some of the most dedicated metal maniacs out there!!!

Stay tuned for more music to come, and UP THE HAMMERS!


 Para conhecer mais sobre Kramp, confiram os links abaixo:

Ouça Gods of Death AQUI
Site oficial & Merchandising AQUI
Bandcamp AQUI
Instagram AQUI
Facebook AQUI


Um comentário:

  1. Putz Dante adoro as bandas da Espanha, valeu mesmo adorei...
    Força e Honra sempre irmão do Aço

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