domingo, 19 de fevereiro de 2023

Vazkor, Son of Vazkor, de Tanith Lee - Uma das grandes obras de espada & feitiçaria indéditas no Brasil


* Antes de começar a resenha propriamente dita, já quero ressaltar um pequeno detalhe. “Vazkor, filho de Vazkor” é, na verdade, o segundo livro de uma trilogia chamada “Birthgrave”. Porém, só fiquei sabendo disso ao terminar o livro, no entanto, isso não afetou em nada meu aproveitamento, pois, até onde pude constatar, o primeiro volume funciona mais como uma prequel para os acontecimentos dos livros dois e três. Sem mais delongas, vamos à resenha, boa leitura!

Tanith Lee não é não é um nome muito conhecido entre os leitores de fantasia brasileiros, pois quase nada da autora foi publicado em nosso idioma. Até onde minha pesquisa me levou, apenas alguns títulos de ficção científica chegaram a ser traduzidos para o português, mas acredito que essas publicações tenham sido feitas por uma editora portuguesa. 

Enfim, deixe-me ressaltar o meu desprezo pelo mercado editorial brasileiro, pois a obra da Sra. Tanith Lee é de um peso e nuance como eu nunca havia experimentado antes.

“Vazkor, filho de Vazkor”, é talvez um dos títulos de espada e feitiçaria mais engajantes e viscerais que eu já tive a oportunidade de ler. Escrito em primeira pessoa, neste livro o leitor é convidado a ver um mundo dilapidado e selvagem através dos olhos orgulhosos de Tuvek (mais tarde Vazkor), filho de Etook, líder das tribos de Eshkorek.

Em uma das retratações mais violentas e verossímeis da vida tribal em todos os seus detalhes mais pungentes, que vão desde a escravidão ao barbarismo, acompanhamos o crescimento do jovem Tuvek. 

Totalmente diferente do restante dos demais jovens da sua tribo e de seu pai, o protagonista é praticamente visto como um pária pela sociedade em que vive, mesmo sendo filho do chefe guerreiro. A verdade é que seu pai, Etook,tomou Tathra, mãe de Tuvek, mais como uma concubina do que uma esposa propriamente dita, principalmente por ela se tratar de uma estrangeira.

 Isso cada a relegar Tuvek a ter uma relação muito íntima apenas com sua mãe. Relação essa que quase tem contornos de um complexo de Édipo, mas chegamos a tanto.

Vou evitar ao máximo discutir spoilers, mas através dos anos, Tuvek, agora já um homem feito, parte em uma missão de resgate de homens de sua tribo que foram feitos prisioneiros por estranhos forasteiros mascarados. Após sua incursão de resgate, Tuvek se surpreende ao descobrir que é dotado de extraordinários poderes, como o dom das línguas e entre outros mais drásticos e violentos.

Após descobertos esses poderes, assim como revelações sobre seu passado e legado, Tuvek, agora assumindo o nome de Vazkor, deixa as tribos de Eshkorek e vai viver com os homens mascarados que antes haviam capturado os guerreiros de sua tribo. O que apenas acaba por revelar mais ainda sobre o seu passado e planta a semente da vingança contra aqueles que um dia cruzaram o seu caminho.

Não vou me aprofundar mais na história, pois não quero mesmo dar nenhum spoiler, no entanto, quero discutir um pouco dos aspectos mais técnicos do livro e da trama daqui para frente.

O fato do livro ser escrito em primeira pessoa acaba por causar uma impressão muito forte quanto as perspectivas e até mesmo dos preconceitos do protagonista. A verdade é que durante os primeiros capítulos, Vazkor é um um personagem que até causa repulsa, dada a sua arrogância e presunção quanto ao mundo que o rodeia. Mas, vale muito ressaltar, que acompanhamos o crescimento de Vazkor, não apenas como guerreiro, mas como homem e, posteriormente, para algo ainda maior. 

De todos os personagens bárbaros que já conheci, e não foram poucos, Vazkor talvez seja o mais humano e trágico, mesmo que suas dores e amarguras só se tornem evidentes no final da trilogia. 

Esse seja talvez um dos livros mais humanos de espada e feitiçaria dos quais já li, no bom e mal sentido. Tendo em vista que todos os personagens são extremamente passionais e tem reações voltadas para suas ambições e desejos mais sórdidos. 

Quase como uma romance clássico, há muitas intrigas e conspirações que permeiam todo o caminho do protagonista, que motivado pela sede de vingança, se vê contra tudo e todos em sua busca.

Claro, dadas essas nuances, a obra parece deixar um pouco de lado suas raízes na espada e feitiçaria em favor ce empregar elementos de novelas de mistérios, assim como tons altamente contemplativos (principalmente no terceiro volume da trilogia, Quest for the White Witch, que pretendo resenhar em breve também), mas essas divergências com a fantasia heróica não são detratoras para a trama como um todo, muito pelo contrário.

A verdade é que o estilo de escrita de Tanith Lee é repleto de detalhes minuciosos, mas extremamente vivos e que dão à sua obra uma aura muito distinta. Quase como se aquela aventura fantástica habitasse em nossa realidade. As culturas e os costumes dos povos retratados aqui são extremamente distintos e complexos, sendo ainda mais realçados pela perspectiva em primeira pessoa e a impressão do protagonista sobre aqueles países e pessoas.

Justamente por esses contornos e sutilezas que tornam “Vazkor, filho de Vazkor” um dos títulos de espada e feitiçaria mais críveis que já li, os atos de violência, sejam eles no campo de batalha, sexuais ou até mesmo psicológicos, são muito mais acentuados pela aura de realidade impressa neste livro de 220 páginas.

Minhas considerações finais? É um crime que toda a trilogia de Birthgrave nunca tenha sido publicada por aqui! Se eu tivesse uma editora, publicar esses três livros seria minha prioridade número um!


domingo, 29 de janeiro de 2023

Entrevista: Dungeon Crawl - Batendo um papo sobre masmorras, RPGs e Thrash Metal!


Talvez uma das minhas descobertas musicais favoritas dos últimos tempos, Dungeon Crawl é uma banda Californiana de Thrash Metal que além fazer metal rápido e de altíssima qualidade também une RPGs (principalmente D&D) aos seus temas.

Tive a oportunidade de bater um papo com Codie, o homem por trás da banda. Onde falamos sobre suas influências, satanic panic, as  últimas polêmicas envolvendo o hobby e muitos mais.

Role iniciativa e boa leitura!


DISCLAIMER: For all friends overseas, an English version of this interview is available further down, enjoy!


1 - Obrigado pelo seu tempo Codie. Em primeiro lugar, como tem sido a recepção da split com Throne of Iron até agora? O que você pode nos dizer sobre o processo de gravação e o futuro para o Dungeon Crawl?

A recepção tem sido ótima! Todos os CDs esgotaram, o que é incrível, e os vinis começaram a ser enviados e as pessoas têm nos marcado em postagens, o que é sempre maravilhoso de se ver.

A gravação da metade do Dungeon Crawl foi exatamente da mesma maneira que gravamos o primeiro álbum. Gravei todas as faixas de guitarra e baixo, bem como os vocais em casa e depois fomos para um estúdio aqui na Califórnia para gravar a bateria e mixar/masterizar tudo. Em relação ao futuro da banda, estou conversando com dois guitarristas que estão interessados ​​em se juntar para shows, espero que dê certo!

2 – Ainda falando de futuro, o segundo álbum já está a caminho, certo? Como está o processo de gravação como uma banda de um homem só até agora?

Sim, o segundo álbum está a caminho, comecei a trabalhar nele praticamente imediatamente após o primeiro ser finalizado. Algumas das músicas foram escritas nos últimos meses, enquanto outras eu já havia escrito antes mesmo do primeiro álbum começar a ser gravado. A faixa mais antiga do álbum é, na verdade, Maze Controller, que estava no +1 Demo, mas não entrou no Roll for Your Life. Estou super empolgado com isso, já que o final foi um pouco reformulado, o que o leva a um novo nível.

Em termos de ser uma banda de um homem só, é honestamente bom não ter que me estressar com a dinâmica da banda e ter certeza de que todos estão praticando o material. Dito isto, ainda estamos sentindo as coisas agora, mas o baterista de sessão que está gravando as faixas para o próximo álbum pode se juntar permanentemente. Eu ficaria emocionado se isso acabasse acontecendo.

3 – Normalmente, o tema fantasia é muito mais explorado por outros estilos de metal que não o Thrash Metal. O que te inspirou a misturar thrash e D&D especificamente?

Misturar o tema e o gênero nunca foi feito intencionalmente, acho que só fiz porque parecia natural e porque amo as duas coisas. Eu cresci lendo os romances do R.A Salvatore no ensino médio, começando com a trilogia do” Vale do Vento Gélido” e eventualmente parando em “Mar de Espadas”, mas sempre tive uma afinidade com a fantasia desde que minha mãe me levou para ver a Sociedade do Anel quando eu tinha 10 anos.

Em termos de gênero, o thrash sempre foi minha maior influência, mas a maioria das bandas que ouço escrevem letras sobre apocalipses nucleares, filmes dos anos 80 e questões sociopolíticas, entre outras coisas. Eu definitivamente queria fazer algo diferente, não apenas para me destacar, mas também porque senti que não seria capaz de ser tão produtivo quando se trata de escrever letras.

Fora isso, uma das minhas bandas favoritas de todos os tempos é o Rhapsody, e embora eu nunca tenha conseguido igualar suas capacidades de composição, eu definitivamente queria que um pouco de sua inspiração aparecesse na minha música.

4 – A música “Crypt of a Thousand Eyes” é sobre uma sessão/campanha de D&D da qual você fez parte no passado. O vídeo é uma colagem interessante de animações dos anos 80/70 e notícias do “Satanic Panic”, como você teve a ideia para este vídeo?

The Crypt of a Thousand Eyes foi uma one-shot que fiz com meu antigo guitarrista junto e um de nossos amigos (que na verdade escreveu a música “Last Call”) e alguns outros. Durou talvez 3 sessões e foi essencialmente apenas um dungeon crawl clássico sobre um necromante que estava perdendo a visão, então ele ressuscitou um bando de mortos-vivos em uma cripta e estava tentando encontrar um par de olhos funcionais entre um deles para substituir seus próprios. Os zumbis finalmente saíram da cripta e entraram em uma pequena cidade onde o grupo foi recrutado para encontrar a fonte, e você pode ver para onde vai a partir daí. O nome da masmorra vem de um filme de propaganda anti-D&D espanhol chamado “El Corazon del Guerrero”.

Em termos do vídeo, usamos muitas cenas do próprio filme, que se relacionam com o tema do Satanic Panic, mas a maior parte das imagens dos noticiários foram encontradas pelo cara que editou o vídeo. Ele realmente se apoiou nisso e acho que ficou ótimo!

5 - Ainda no tema do Satanic Panic, esse foi um período de histeria em massa para a cultura americana da época. Você se inspira na alienação dos jogadores de D&D da época ou é apenas algo do seu interesse?

É definitivamente algo que pode ser usado como inspiração, pode valer a pena explorar esse tema liricamente e incorporá-lo em algum material futuro. Há um romance de não ficção chamado “The Dungeon Master” sobre um jovem chamado James Dallas Egbert III que foi alienado por seus colegas por jogar D&D pouco antes do Satanic Panic que ainda preciso ler. A história foi a inspiração para o filme “Mazes & Monsters”.

6 - Temos visto uma nova onda de bandas de metal de altíssima qualidade, em todos os gêneros, mas agora podemos ver mais bandas abordando o tema dos RPGs em seus temas líricos. Como você vê esse fenômeno?

É emocionante! Acho que se esse subgênero específico do metal crescer o suficiente, pode definitivamente levar a algo grande. Algo como uma convenção durante todo o dia com bandas se apresentando durante o dia com jogos TTRPG à noite é um conceito realmente interessante em que sempre pensei. Bandas como Throne of Iron, Doomslayer, Bog Wizard e Greyhawk estão arrasando.

7 - Como você entrou no mundo de D&D e TTRPGs em geral?

Comecei com D&D quando minha irmã me deu a caixa do jogo básico da edicação 3.5 quando eu estava no colégio, por volta de 2006. Joguei como mestre talvez uma vez, joguei como jogador por um tempo e, eventualmente, parei com TTRPGs por um longo tempo. Para ser sincero, inventamos um monte de coisas naquela época e erramos todos os tipos de regras, mal sabíamos o que estávamos fazendo e eu não tinha paciência para ler todas as regras a fundo. Por volta de 2012, entrei para um grupo Pathfinder onde joguei por um curto período e, posteriormente, entrei no RPG Star Wars Fantasy Flight na mesma época. Fiquei viciado nisso por anos até o lançamento da 5e em 2015, quando peguei o Livro do Jogador. Aquele ano foi provavelmente o mais memorável, já que meu amigo Jared e eu estávamos jogando uma tonelada de 5e e escrevendo músicas de Dungeon Crawl na garagem da minha mãe.

8 - Sobre D&D, qual sua edição favorita e por quê? Quais são alguns dos seus recursos favoritos?

A quinta edição é provavelmente a que eu conheço melhor e a minha favorita até agora, mas tenho algumas queixas com ela. Eu sinto que a escala da maioria dos conteúdos de 5e é muito épica. Mesmo se você determinar que vai rodar um jogo homebrew simplificado, os jogadores normalmente subirão de nível a um ponto em que sua única opção é enviar grandes monstros assustadores pra cima deles se quiserem um desafio. Parece que remove muito do risco - e a recompensa que vem de sobreviver a esses riscos - do jogo quando você tem um bônus tão alto para acertar ou para ter sucesso em um teste de habilidade / save de resistência também.

É estranho, porque parece que estou criticando o jogo e que eu não gosto quando ainda jogo regularmente e me divirto haha.

9 - A WOTC/Hasbro ganhou bastante notoriedade recentemente com a nova OGL. Qual a sua opinião sobre o assunto? Muitas pessoas estão pensando em abandonar toda a as novas edições do D&D devido a essa intromissão corporativa.

Como empresa, não posso culpá-los por tentar ganhar dinheiro; no entanto, fazê-lo de maneira tão dissimulada pega mal pra eles. Acho que eles recuaram um pouco e tentaram fazer algum controle de crise, mas neste ponto é muito pouco, muito tarde. Eu sinto que eles deveriam ter explorado outras opções para ganhar dinheiro primeiro, como licensiar seu IP para outras empresas para criar jogos de vídeo/programas de TV/etc. Claro, temos Baldur's Gate 3 saindo em breve e o filme de D&D não muito longe, mas é tudo que consigo pensar. Os anos 90/00 foram repletos de jogos como Icewind Dale, Baldur's Gate I e II, Dark Alliance I e II, os jogos Neverwinter Nights etc. isso está falhando com eles agora que todos parecem estar cancelando a assinatura como uma declaração contra o OGL 1.1.

10 - O que você acha do movimento OSR? Algum sistema ou suplemento chamou sua atenção ultimamente? Você acredita que eles são o futuro do hobby?

Acho que o subconjunto de jogadores que jogam OSR não está nem perto do tamanho necessário para ser considerado o futuro do hobby. Acho que muitos jogadores entraram nos TTRPGs com 5e e foram arrebatados como parte do fenômeno cultural que é o Critical Role, e a maioria deles parece muito contente por estar lá. Eu sinto que essa turma está procurando regras rígidas que sejam mais parecidas com o estilo de um videogame, e o material OSR pode ser um pouco rápido e solto demais.

Dito isto, tenho me interessado recentemente e posso dizer que sou um grande fã neste momento. Meu amigo Mitch (que faz os vocais na banda Doomslayer) me convidou para jogar Swords & Wizardry com ele e os últimos meses foram muito divertidos. Recentemente, adquiri a maioria dos tomos de jogadores avançados do Old School Essentials e estou gostando muito de lê-los. Eu até comecei a criar uma campanha usando essas regras.

11 - Além de TTRPGs e Metal, você tem algum outro interesse relacionado ao mundo da fantasia? Algum livro/autor favorito, filmes e videogames?

Eu sou um GRANDE fã de Conan, o Bárbaro. Eu li praticamente todas as histórias originais de Robert E. Howard junto com a maioria das novelizações gráficas, então eu diria que ele provavelmente é meu autor favorito neste momento. Já ouvi muitas coisas boas sobre outros autores, como Clark Ashton Smith, Gene Wolfe e Patrick Rothfuss, mas ainda não tive tempo de conferir nenhum de seus trabalhos.

Nos últimos 15 anos, tentei várias vezes entrar nos romances da Roda do Tempo, mas sempre acabei parando no meio do Olho do Mundo. No que diz respeito aos videogames, sou um grande fã da série Souls e tenho jogado muito Elden Ring ultimamente.

12 - Por fim, gostaria de agradecer a você Codie e deixar uma última pergunta. Você prefere ser mestre ou jogador? Por quê? Além disso, o espaço é seu para deixar uma mensagem para os fãs do mundo todo!

É uma decisão difícil, eu tenho jogado de mestre a maior parte do meu tempo com RPGs, então estou mais familiarizado com a experiência e provavelmente aproveito mais. Às vezes é bom não ter que passar a semana inteira planejando uma sessão e apenas ser um jogador. Quando estou como jogador, passo muito tempo revisando as perícias, feitiços e habilidades da minha classe para não esquecer de usá-los durante o jogo. Eu sinto que isso é uma coisa muito comum que acontece com muitos jogadores.

De qualquer forma, confira The Side Quest! A metade do Throne of Iron é super incrível e “Gods of Liquid Gold” é provavelmente uma das minhas faixas favoritas do NWOTHM neste momento. Muito obrigado pelo seu tempo e todas as perguntas incríveis!


ENGLISH VERSION:

1 - Thanks for your time Codie. First of all, how has the reception for the split with Throne of Iron been so far? What can you tell us about the recording process and the future for Dungeon Crawl?

The reception has been great! All of the CDs have sold out, which is awesome, and vinyl just started shipping and people have been tagging us in posts which is always wonderful to see. 

Recording Dungeon Crawl’s half of the split went pretty much exactly the same way that we recorded the first record. I recorded all the guitar and bass DI tracks, as well as vocals at home and then we went into a studio here in California to have the drums recorded and the whole thing mixed/mastered. In terms of the future of the band, I’m currently talking to two guitarists who are interested in joining for live stuff, hopefully it works out!

2 – Still on the topic of the future, the second album is already on its way, right? How is the recording process going as a one-man band now?

Yeah the second record is on it’s way, I started working on it pretty much immediately after the first one wrapped up. Some of the songs were written in the last few months, while I had already written others before the first album had even begun recording. The oldest track on the album is actually Maze Controller, which was on the +1 Demo but didn’t make it onto Roll for Your Life. I’m super excited for that one, since the ending has been reworked a bit which takes it to a new level.

In terms of being a one-man band, it’s honestly been nice not having to stress about band dynamics and making sure everyone is practicing the material. That being said, we’re still kind of feeling things out right now, but the session drummer who is recording tracks for the next record might join permanently. I’d be thrilled if it ends up happening.

3 – Normally, the fantasy theme is much more commonly explored by other styles of metal than Thrash Metal. What inspired you to mix thrash and D&D specifically?

Blending the theme and the genre was never really done intentionally, I think I just did it because it felt natural and because I love both things. I grew up reading R.A Salvatore novels in high school, starting with the Icewind Dale trilogy and eventually stopping around Sea of Swords, but have always had an affinity for fantasy since my mom took me to see the Fellowship of the Ring when I was 10 years old.

In terms of the genre, thrash was always my biggest influence, but most of the bands I listen to write lyrics about nuclear apocalypses, 80s movies, and sociopolitical issues, among other things. I definitely wanted to do something different, not just to stand out, but also just because I felt like I wouldn’t be able to be nearly as productive when it came to writing lyrics.

Other than that, one of my favorite bands of all time is Rhapsody, and while I could never match their writing capabilities, I definitely wanted some of their inspiration to come through in my music.

4 – The song “Crypt of a Thousand Eyes” is all about one a D&D session/campaign you’ve been a part of in the past. The video is an interesting collage of 80 animations and satanic panic news reports, how did you get the idea for this video?

The Crypt of a Thousand Eyes was a short little one shot I DMed with my old guitarist along with one of our friends (who actually wrote the Dungeon Crawl song “Last Call”) and some others. It lasted maybe 3 sessions and was essentially just a classic dungeon crawl about a necromancer who was losing his eyesight, so he resurrected a bunch of undead in a crypt and was trying to find a pair of functioning eyeballs among one of them to substitute his own. The zombies eventually made their way out of the crypt and into a small town where the party was recruited to find the source, and you can see where it goes from there. The name of the dungeon comes from a Spanish anti-D&D propaganda film called “El Corazon del Guerrero”.

In terms of the video, we used a lot of footage from the movie itself, which ties into the theme of the satanic panic, but most of the news report footage was found by the guy who edited the video. He really leaned into it and I think it turned out great!

5 - Still on the satanic panic theme, this was a period of mass hysteria for the American culture of the time. Do you get inspiration from the alienation of D&D players of the time or it’s just something of interest for you?

It’s definitely something that can be used as inspiration, it might be worth exploring that theme lyrically and incorporating it into some future material. There’s a non-fiction novel called “The Dungeon Master” about a young man named James Dallas Egbert III that was alienated by his peers for playing D&D just before the satanic panic which I still need to read. The story was allegedly the inspiration for the movie “Mazes & Monsters”.

6 - We’ve been witnessing a new wave of quality metal bands, in all genres, but now we can see more bands approaching the subject of RPGs in their lyrical themes. How do you see this phenomenon?

It’s exciting! I think if this specific sub-genre of metal grows enough it could definitely lead to something big. Something like an all day long convention with bands performing in the day time with TTRPG games in the evening is a really interesting concept I’ve always thought about. Bands like Throne of Iron, Doomslayer, Bog Wizard, and Greyhawk are killing it.

7 - How did you get into D&D and TTRPGs in general?

I started with D&D when my sister got me the 3.5e Basic Game box set when I was in high school, around 2006. I DMed maybe once, played as a player for a while, and then eventually stopped playing TTRPGs for a long while. To be honest, we made a ton of stuff up back then and flubbed all kinds of rules, we barely knew what we were doing and I didn’t have the patience to read all of the rules in-depth. Around 2012 I joined a Pathfinder group where I played for a short period, and subsequently got into the Star Wars Fantasy Flight RPG around the same time. I was hooked on that for years until 5e came out in 2015, when I picked up the Player’s Handbook. That year was probably the most memorable, since my friend Jared and I were playing a ton of 5e and writing Dungeon Crawl songs out of my mom’s garage.

8 - About D&D, what’s your favorite edition and why? What are some of your favorite features?

Fifth edition is probably the one I know the best and my favorite thus far, but I do have some gripes with it. I feel like the scale of most 5e content is just too epic. Even if you determine that you’re going to run a homebrew game that’s stripped down, the players will typically level up to a point where your only option is to send big scary monsters at them if they want a challenge. It feels like it removes a lot of the risk--and the reward that comes from surviving those risks–from the game when you have such a high bonus to hit or to succeed a skill check/saving throw as well.

It’s weird, because it sounds like I’m bashing the game and don’t like it when I still play regularly and enjoy it haha.

9 - WOTC/Hasbro have amassed quite some notoriety recently with the new OGL. What’s your opinion on the matter? Many people are considering leaving whatever new editions of D&D pass due to this corporate meddling.

As a business, I can’t blame them for trying to make money, however doing it in such an underhanded way reflects poorly on them. I think they’ve backpedaled a little bit and tried to do some damage control, but at this point it’s too little, too late. I feel like they should have explored other options to make money first, like leasing their IP to other companies to create videos games/tv shows/etc. Sure, we have Baldur’s Gate 3 coming out soon and the D&D film not far away, but that’s all I can think of. The 90s/00s was filled with games like Icewind Dale, Baldur’s Gate I & II, Dark Alliance I & II, the Neverwinter Nights games, etc. Seems like they’ve just been complacent with DNDBeyond subscriptions as their main source of revenue, and that’s failing them now that everyone seems to be unsubscribing as a statement against OGL 1.1.

10 - What do you think of the OSR movement? Any systems or supplements have caught your attention lately? Do you believe they are the future for the hobby?

I think the subset of players that play OSR is nowhere near the size it needs to be in order to be considered the future of the hobby. I think a lot of players came into TTRPGs with 5e and got swept up as part of the cultural phenomenon that is Critical Role, and most of them seem pretty content to be there. I feel like that crowd is mostly looking for rigid rules that are more akin to the style of a video game, and the OSR stuff might be a little too fast and loose.

That being said, I’ve been getting into it recently and can say that I’m a huge fan at this point. My buddy Mitch (who does vocals in the band Doomslayer) invited me to play Swords & Wizardry with him and the last few months have been a ton of fun. I recently got most of the Old School Essentials Advanced Players Tomes and am really enjoying reading through them. I’ve even started DMing a campaign using those rules.

11 - Aside from TTRPGs and Metal, do you have any other interests related to the world of fantasy? Any favorite books/authors, movies and videogames?

I am a HUGE Conan the Barbarian fan. I’ve read pretty much all of the original stories by Robert E. Howard along with most of the graphic novelizations, so I’d say he’s probably my favorite author at this point. I’ve heard a lot of good things about other authors such as Clark Ashton Smith, Gene Wolfe, and Patrick Rothfuss, but I haven’t had the time to check out any of their works yet.

Over the last 15 years, I’ve tried multiple times to get into Wheel of Time novels but always end up stopping halfway through the Eye of the World. As far as video games go, I’m a pretty big fan of the Souls games, and have been playing a lot of Elden Ring lately.

12 - Lastly, I’d like to thank you Codie and leave you with one last question. Do you prefer DMing or being a PC? Why? Also, the space is yours to leave a message for the fans worldwide!

It’s a tough call, I’ve DMed most of my time playing RPGs so I’m most familiar with the experience and probably enjoy it more. Sometimes it’s nice not having to spend all week planning a session and just being a player though. When I play as a player, I spend a lot of time going over the skills, spells, and abilities for my class so I don’t forget to use them during gameplay. I feel like that’s a very common thing that happens to a lot of players.

Anyway, check out The Side Quest! Throne of Iron’s half is super awesome and “Gods of Liquid Gold” is probably one of my favorite NWOTHM tracks at this point. Thanks a ton for your time and all the awesome questions!


Para conhecer mais sobre Dungeon Crawl, confira os links abaixo:

Ouça The Side Quest AQUI



terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Golden Axe - Minha introdução ao mundo da espada & feitiçaria

Permitam-me contar-lhes uma história da minha infância de maneira muito breve. O ano é 1998, minha experiência com videogames até agora se resumia ao Atari, Master System da Sega e ao Nintendinho 8-bits. Era sábado à tarde e a campainha da minha casa toca, era um amigo do final da rua procurando por mim.

"Meu pai fez um rolo e arranjou um videogame novo pra mim, vamos lá jogar?", sendo o moleque nerd de nariz sujo que eu era, nem pensei duas vezes.

Eu me recordo de que não gostava muito de ir até a casa desse amigo, pois era uma casa bem velha e como ele tinha outros três irmãos de idades diversas, tudo estava sempre muito bagunçado.

Um cheiro de mofo e de descaso pairava em toda parte, mas daquela vez, algo me fez querer ir.

E foi aí que ficamos reclusos à um quartinho no canto mais escondido da casa. Sem janelas, sem lâmpadas, praticamente desconectados do mundo.

Lembro muito bem do cenário com que me deparei, duas cadeiras roubadas da cozinha, dispostas em frente à um pequeno móvel de madeira, já caindo aos pedaços, onde repousava uma diminuta TV de 14 polegadas sem cores, um Mega Drive no chão e dois controles de três botões.

Até então, ele só tinha um cartucho, de um jogo que eu nunca tinha ouvido falar, "Golden Axe II". Como todo moleque de oito anos que curtia games, toda novidade era bem vinda, mas eu não estava preparado para o que viria a seguir.

Aquela tarde passou como um lapso, quando menos me dei conta, meu pai já estava no portão, me chamando para voltarmos pra casa, pois já passava das 9 horas da noite. Ou seja, minha imersão naquele mundo repleto de monstros medonhos e de barbarismo foi tão completa, que nem sequer comida ou qualquer outra coisa foi necessária.

Tudo o que eu queria era desbravar o mundo fantástico que se desenrolava diante dos meus olhos, com seus monstros imponentes, tomos de magias proibidas e combates incessantes e sangrentos. Tudo isso preso dentro daquela singela tevezinha totalmente desprovida de cores.

Sei que todo esse relato soa exageradamente nostálgico, mas não tenho dúvidas de que foi naquele momento que minha paixão pelo gênero de fantasia começou. Inclusive, naquela mesma noite (e no decorrer de todo o resto do fim de semana), como eu não calava a boca sobre o tal jogo, meu pai desenterrou uma caixa velha e puída da garagem. 

A dita caixa estava cheia de revistas e livros velhos. Mas, mais do que isso, ela estava repleta de edições de "A espada selvagem de Conan" da Editora Abril.

E apesar de ser um pirralho babaca, que ainda não tinha o hábito de ler, passei as semanas seguintes contemplando aqueles desenhos, e fiquei surpreso em como eles pareciam ter saltado direto daquele jogo que havia se tornado minha obsessão.

No fim de semana seguinte, meu pai foi até a locadora da cidade e trouxe com ele os dois filmes do Conan com o icônico Arnold Schwarzenegger, e o resto é história.

Mas afinal, por que de toda essa exposição e papo romantizado sobre a minha distante infância? Ora, não é óbvio? Em um país em que o gênero literário da fantasia e, principalmente, da espada & feitiçaria, é tão carente, a busca por outros veículos com os quais possamos suprir essa nossa necessidade de ter contato direto com essas aventuras jamais sonhadas, monstros terríveis, magos e necromantes e heróis destemidos deve se estender para além das páginas dos livros e ser encontrada em outras mídias distintas.

Sejam games, eletrônicos ou de mesa, filmes ou HQs, a busca por esse mundo fantástico sempre me cativou, e Golden Axe foi um dos principais responsáveis por isso. Pois esse jogo de 16-bits para o saudoso console da Sega, nada mais é do que a culminação de todo um gênero condensado em uma jogatina que pode ser concluída em cerca de meia hora.    

A trilogia de jogos hoje é tida como um clássico para aqueles que cresceram com o saudoso Mega Drive da Sega, e com razão. Afinal, estamos falando em um dos primeiros casos onde o barbarismo de fato tomou forma em um jogo eletrônico. 

E eu ainda nem tive a chance de mencionar a trilha sonora. Que além de ser considerada uma das mais memoráveis quando se trata de videogames, também é perfeita para te transportar para aquele mundo tão distante, onde reina a espada e o sangue!

Além disso, quero citar também um detalhe que com certeza muitos já sabem, mas seria um crime deixar isso de fora. A ARTE DA CAPA! DEUSES DO AÇO! QUE ARTE MARAVILHOSA!

Assinada pelo grande Boris Vallejo, conhecido de longa data dos fãs de Conan. A arte que ilustra a capa de Golden Axe II é talvez uma das minhas peças favoritas da autoria do pintor Peruano.

A série, infelizmente, jaz adormecida desde o lançamento de Golden Axe - Beast Rider (PS3 e XBOX 360) em 2008. O último jogo da série não teve uma boa recepção, mas ainda tem seus fãs perdidos por aí.

Mas, podemos sempre nos alegrar de que a trilogia original é facilmente acessível até hoje. Cada um sai por menos de R$ 3 na Steam, para aqueles que queiram jogar no computador. Mas os três títulos também podem ser encontrados em várias coletâneas de jogos para vários consoles diferentes.

E para os guerreiros mais aventureiros, as fitas para o Mega Drive ainda espreitam aqui e ali.

 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Espadas Afiadas & Feitiços Sinistros - Um OSR enxuto, sem frescuras e com muito a oferecer

Vamos iniciar 2023 celebrando os nossos queridos OSRs, e tanto melhor quando temos um título nacional para dar o pontapé inicial nesse novo ano do Masmorra!

Espadas Afiadas & Feitiços Sinistros (EA&FS daqui pra frente) é um sistema de regras levas criado por Diogo Nogueira e lançado através de financiamento coletivo em 2017. A versão impressa ficou a cargo das editoras Pensamento Coletivo e Old Skull Publishing.

E falando ainda um pouco mais sobre a versão física do sistema, meus amigos, que coisa bonita esse encadernado!

Com uma apresentação muito bem feita desde a capa até as ilustrações que embelezam todo o interior do encadernado. Todas as artes aqui tem um ar extremamente old school sem deixar de lado o profissionalismo. Alguns dos artistas que participaram aqui são particularmente excelentes até.

No quesito apresentação, sou só elogios para EF&FS, mas e quanto às regras do sistema em si? Será que estão no mesmo patamar da parte visual? Como eu fico feliz em dizer que sim!


Nenhum texto desnecessário sobre fazer “contrato social” para jogar ou sobre criar “espaços seguros” para os jogadores. Absolutamente nada disso está presente aqui, e como isso me deixa feliz! Afinal, todo texto extra que não esteja se referindo às regras do jogo aqui, é destinado a criar ambientações e a incrementar o clima de exploração de masmorras e de perigos desconhecidos que espreitam nas sombras.


Tudo aqui gira em torno da ambientação, totalmente voltada para espada e feitiçaria. Ou seja, o sistema de jogo em si é simplificado para partidas rápidas e de alta periculosidade para os jogadores. Há uma influência Gygaxiana (essa palavra existe?) no sistema de pontos de experiência e na simplicidade das classes disponíveis. Mas ainda assim, também há muito espaço para experimentação e adaptação para usar outros suplementos OSR aqui e alí.


Ler esse encadernado de EA&FS foi um prazer sem tamanho. Pois, fica aparente que o sistema em questão foi escrito de forma despretensiosa e sem a necessidade de floreios e outros elementos que só tornaria a leitura cansativa e desinteressante. Aqui, tudo está bem estruturado, as regras são de fácil compreensão e, acima de tudo, igualmente fáceis de aplicar durante uma partida.


Além disso, faço questão de ressaltar como é bom ler um sistema cujas regras são de fato mínimas e de baixíssima manutenção. Assim, a necessidade de consultar o livro durante o jogo em si é praticamente inexistente. O que vai garantir uma partida muito mais imersiva e divertida para ambos os jogadores e o mestre.


Sem falar também nas tantas tabelas que estão inclusas aqui. CARA, COMO EU AMO ESSAS TABELAS!!!

Aqui você contará com várias delas para gerar ganchos para suas aventuras, títulos, situações, tesouros, armas, equipamentos, etc.

As possibilidades aqui se limitam unicamente à sua criatividade e a sua disposição em usar dessas tabelas.

Eu, particularmente, acho esse sistema perfeito para grupos que queiram fazer partidas mais episódicas e sem se preocupar com uma campanha mais longa.


Em resumo, eu acredito que toda a  indumentária mais simplista de EA&FS é muito convidativa para aqueles que querem adentrar ao mundo dos RPGs, mas não estão dispostos a gastar/investir mais de R$500 para adquirir os três livros básicos de Dungeons & Dragons. 


Esse tem sido de fato um dos maiores atrativos dos OSRs hoje, pois apesar de ainda vermos alguns sistemas mais celebrados sendo lançados em edições de luxo e tantos outros balangandãs, ainda podemos ter certeza de que haverão sistemas mais acessíveis e de igual (e em alguns casos até melhor) qualidade para sua mesa de jogo. 


Dentre todos os OSR que eu adquiri nos últimos anos, eu devo coroar EA&FS como um dos meus favoritos até agora. Sem falar ainda na adição dos suplementos “Addendum” e “Livro do Criador”, que vão incrementar o sistema base ainda mais com regras opcionais e outras coisas do gênero que já são tão familiares para os mestres de todo o mundo.

Suplementos esses que eu ainda não tive a oportunidade de ler, mas já estão a caminho da minha caixa de correio nesse momento (hehe).

Por fim, se você está querendo ingressar no mundo dos RPGs mas ainda não sabe por onde começar e quer evitar os preços proibitivos dos sistemas mais populares, EA&FS é um ponto de entrada perfeito.

Se essa é a sua intenção, aqui você terá em mãos tudo o que vai precisar. Agora, se você já é um jogador experiente e está na busca de um sistema que funcione melhor para cenários de espada e feitiçaria e se empregue muito bem em aventuras curtas, esse é o sistema para você!


Para adquirir uma cópia do sistema básico e dos suplementos, tanto nas versões impressas e digitais, acesse o site da Pensamento Coletivo aqui.






sábado, 12 de novembro de 2022

AD&D : Pool of Radiance - Ambicioso, saudosista e impiedoso ao ponto do absurdo

Permita-me ilustrar uma situação que, acredito eu, todo jogador de RPG já passou em algum momento da vida ou irá passar.
É tarde de sexta feira, a campainha toca, é o carteiro. Ele trouxe  um pacote de tamanho generoso. Dentro, você encontra aquele sistema novinho que estava tão animado para experimentar, ou até mesmo algum suplemento para algum outro sistema que você já tem e estava querendo dar uma incrementada.

Sextou! Acabou o expediente do trabalho, hora de recostar, relaxar e curtir a leitura do seu RPG novinho.
Aí você começa a pensar nos possíveis cenários, adaptações e, principalmente, em todas as aventuras que poderá ter com aquele RPG.

Aí cai a tão temida ficha, o choque de realidade vêm e é impiedoso.
Para jogar, você precisa de um grupo de pessoas, e nenhum dos seus amigos mais próximos tem tempo para se dedicar à uma campanha que pode durar meses e até anos!

Quem nunca passou por isso, das duas uma, ou está mentindo, ou ainda passará por essa situação tão desagradável.

Eu mesmo, me encontro nessa fossa hoje em dia. Onde todo mês chega algum suplemento, zine ou OSR novo na minha casa, mas não tem um caboclo sequer pra jogar comigo.

Dada essa tristeza toda, é comum que um jogador de RPG inveterado busque por meios alternativos para saciar essa vontade (leia-se necessidade) de aventura. E é aí que entram os videogames!

Recentemente, dada minha falta de um grupo para jogar um bom e velho AD&D, me peguei buscando por alternativas no mundo dos games eletrônicos.

Fossem eles antigos ou novos, tudo que eu queria era me perder no mundo de Forgotten Realms e curtir uma boa aventura repleta de masmorras, magia e monstros.

Eu já estava ciente que a franquia D&D já teve seus flertes com os videogames desde o fim dos anos 80, mas, primariamente, esses jogos foram lançados para PC, e eu sou majoritariamente um sujeito que joga nos consoles.

Ainda assim, ao saber que o primeiro jogo da série, “Pool of Radiance” de 1988, ganhou uma versão para o saudoso Nintendinho de 8-bits, eu não pensei duas vezes. Mesmo sabendo que entre os fãs, a versão para o console da Nintendo era considerada inferior em comparação com o jogo original para PC, isso não me dissuadiu. 
Então já deixo claro que essa resenha tratará exclusivamente da versão para o Nintendinho.

“Pool of Radiance” é considerado um clássico eterno do gênero de CRPGs (Jogos de RPG para computadores). E sua versão para o console da Nintendo, apesar de um tanto diferente em termos visuais, ainda transborda com aquele charme que só o mundo de D&D tem. 
As interfaces e regras são bem familiares para quem já teve a oportunidade de jogar a primeira edição de AD&D. O que garante um sensação reconfortante para os jogadores mais ansiosos.

O jogo em si é um tanto simples, já que basicamente estamos falando de um dungeon crawler um tanto primitivo. Mesmo assim, “Pool of Radiance’ dá ao jogador várias liberdades que o permitem muita experimentação (e chances ao erro, claro).
Para um jogo originalmente lançado em 1988, as interações com o mundo que rodeia o seu grupo de aventureiros são bem amplas. Apesar de serem, na sua maioria, apenas estéticas ou sem grandes impactos na jogabilidade, mas de toda forma é bom que estejam lá, pois ajudando bastante na imersão.

Mas o que realmente importa aqui é a exploração de masmorras e a chacina desenfreada de monstros de toda sorte. E como essa adaptação de AD&D se sai nesse âmbito afinal de contas?
Não muito bem, infelizmente…

Em comparação com outros jogos, sejam contemporâneos ou mais modernos, “Pool of Radiance” tem suas faltas feitas mais aparentes devido a sua obsessão com suas regras que estão firmemente plantadas no RPG de mesa tradicional.

Enquanto que o rolar de dados em uma mesa, rodeado de amigos lutando contra monstros medinhos, seja uma sensação ímpar. A mesma experiência não se traduz para um videogame.

Todo jogador de RPG sabe que errar um ataque por causa de um dado teimoso é uma realidade. Mas em “Pool of Radiance” cada combate será assombrado constantemente pela mensagem “Você errou seu ataque”.
Tive a infelicidade de entrar em combate contra um grupo pequeno de monstros, cerca de três ou quatro Kobolds, e perder quase 15 minutos da minha vida porque meus personagens simplesmente eram incapazes de acertar seus ataques.

Há uma sensação constante de impotência e de estar perdido que permeia o jogo. Normalmente, quando se trata de dungeon crawlers antigos, essas sensações são comuns nos primeiros momentos do jogo. Mas “Pool of Radiance”, por estar tão profundamente inserido em suas raízes de RPG de mesa, acaba por se tornar um jogo frustrante e desnecessariamente complexo para jogadores mais iniciantes.

Realmente, se seu conhecimento sobre D&D (e AD&D) é zero, esse decididamente não é um jogo para você.
Pois ele já assume familiaridade por parte do jogador com as regras dos sistemas já citados.

Em uma visão geral, “Pool of Radiance” tem aquele charme que é tão único ao universo de D&D, no entanto, esse não é o tipo de jogo que eu recomendaria para alguém que esteja buscando uma introdução ao gênero.

Em termos de videogames, se você procura uma experiência de dungeon crawl que seja mais hard core, mas que não seja frustrante ao ponto do seu controle ir de encontro a tela, eu recomendaria outros títulos disponíveis no Nintendinho ou até mesmo em outros consoles.

Por fim, “Pool of Radiance” não é um jogo ruim, mas termos como “datado” ou “antiquado” não são um exagero. Apesar de eu gostar do jogo, não consigo recomendá-lo sem ressalvas.
Aproxime-se apenas se você uma iniciativa acima de 15, muita paciência e alta tolerância com jogabilidade lerda e não cooperativa.

Caso tenha interesse, a versão para PC de "Pool of Radiance", e vários outros jogos da série, podem ser encontrados por um ótimo preço AQUI.

Para a versão do Nintendinho, sinto muito, mas cópias do cartucho original são bem raras.
Mas afinal, é pra isso que existem os emuladores.


terça-feira, 25 de outubro de 2022

The Head Hunter - O melhor filme de espada e feitiçaria/terror que você não viu

Recentemente, em uma enquete que fiz no perfil do Masmorra no Instagram. Perguntei a vocês o que gostariam de ver nas próximas postagens aqui do blog.
Então, atendendo aos pedidos, dessa vez vamos dar uma olhada em um filme.
Vamos ao que interessa de uma vez!

'The Head Hunter" é um filme americano independente de 2018, escrito por Kevin Stewart e Jordan Downey (sendo que o último também ocupou a cadeira do diretor) e estrelado pelo ator norueguês Christopher Rygh.
Um factoide interessante sobre o protagonista é o fato dele ser descendente direto de ninguém mais, ninguém menos que Harald "Cabelinho Bom" Halfdanson, o primeiro rei da Noruega, que governou entre 872 até 930 d.C.

Fiquei sabendo da existência de 'The Head Hunter' através de um podcast chamado 'Monsters, Madness and Magic'. Que é voltado para universo da espada & feitiçaria, mas, em certas ocasiões eles batem um papo com músicos de bandas de metal que permeiam o gênero fantástico.
Certa vez, o entrevistado da vez foi o Sr. Jason Tarpey, vocalista da banda Eternal Champion (uma das minhas preferidas e da qual eu ainda pretendo fazer uma postagem aqui no Masmorra).
O Sr. Tarpey, além de vocalista também é escritor e já teve alguns de seus contos e seu primeiro livro publicado em 2020. E quando perguntado sobre novos filmes que lhe haviam chamado a atenção, ele foi só elogios para 'The Head Hunter'.
Aquilo foi suficiente para que eu fosse atrás do filme e pudesse conferir a obra com meus próprios olhos.

Falando brevemente do enredo (sem spoilers), aqui nós acompanhamos a história de um pai, que vê sua única filha assassinada por um monstro misterioso.
Após sua morte, o pai passa a viver seus dias em total isolamento, apenas deixando seu abrigo para caçar monstros e criaturas que aterrorizam o reino. Mas, ainda assim, ele também busca por vingança contra o monstro que matou sua filha. Até que um dia, um rastro do algoz é finalmente encontrado e começa a busca pela tão sonhada retribuição.

Quando falamos em filmes independentes, é muito comum o receio e a antecipação de uma produção tosca e de baixo orçamento.
Mas 'The Head Hunter' passa muito longe desse estereótipo e entrega com maestria um filme que transborda uma atmosfera visceral, opressora e introspectiva. Muito disso se dá pela eximia atuação do Sr. Rygh, sendo incrivelmente expressivo e capaz de transmitir muito bem suas motivações sem a necessidade de expressar nenhuma palavra.
Algo muito difícil de se conseguir, ainda mais, se ressaltarmos o fato de que podemos contar o número de falas do roteiro desse filme nos dedos.

Destaco também os aspectos visuais do filme, como a fotografia, uma coisa linda de ver. Com florestas cinzentas, ruínas delapidadas e toda a majestade da natureza que permeia o cenário.
Os figurinos e maquiagem também são dignos de nota. Pois o uso de efeitos práticos, ao invés dos odiados CGs do cinema moderno, concedem ao filme uma aura mais próxima da realidade e que realça a brutalidade e a violência daquele mundo.
Isso tudo acompanhado por uma trilha sonora que, apesar de parca, funciona muito bem para atenuar os momentos mais tensos do filme.

E já que estamos falando em violência, 'The Head Hunter' consegue fazer o que poucos filmes conseguiram. Ele expõe, de forma nua e crua, sua violência. Mas ainda assim, ela não soa explicita ou gratuita, pois é apenas o pano de fundo do mundo particular onde o protagonista se encontra. Onde a decadência, selvageria e o ódio são ferramentas do seu dia a dia e garantem sua sobrevivência em um mundo onde mesmo o mais forte deve sempre estar alerta.

Por mais que eu categorize 'The Head Hunter' como um filme, essencialmente, de espada & feitiçaria. Ele se encaixa muito confortavelmente no gênero de terror.
Já que o maior artifício aqui é a construção de cenas tensas e de natureza misteriosa, que torna o enredo denso e cativante. Mesmo que o filme conte com pouquíssimas falas durante seu desenrolar.
A soma de suas partes faz com que o filme se assemelhe muito bem a uma história Pulp de autores como nosso querido Robert E. Howard, Gardner Fox ou Clark Ashton Smith.

Talvez o final seja a única parte do filme que não me agrade em sua totalidade, mais por aspectos técnicos mesmo. Pois os narrativos estão bem pareados com os elementos que tornam o mundo que nos foi apresentado tão brutal.
O filme, apesar de curto (apenas 1 hora e 14 minutos), tem uma duração adequada para o tipo de história que se propõe a contar. Mas mesmo assim, ele ainda exige sua atenção e cometimento com a trama por parte de quem está assistindo.

Em suma, 'The Head Hunter' é uma das melhores coisas que assisti no veículo cinematográfico nos últimos anos.
Honesto consigo mesmo e contido em suas próprias limitações. Mas ainda é capaz de mostrar grande promessa e entrega uma aventura permeada pelo profunda contemplação sobre a perda, o ódio e, acima de tudo, sobre o medo.


ONDE ASSISTIR?

Infelizmente, 'The Head Hunter' não está disponível em nenhum serviço de streaming no Brasil.
Para os amigos que usam VPNs, o filme está disponível no Amazon Prime Video Americano.
Vez ou outra cópias em DVD e Blu-ray também aparecem no site da Amazon ou Americanas.

ASSISTA O TRAILER AQUI

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Aquele Jogo da Masmorra com Dragões & tal - O sonho molhado de um 'murderhobo' em forma de livreto

Não sei se isso já aconteceu com você em algum momento, mas deixe-me ilustrar melhor a situação.
No início do ano, eu apoiei várias campanhas no Catarse, desde HQs até livros jogo, como esse que vamos conferir hoje. E durante meu hiato, acabei por me distanciar de quase tudo aquilo que eu gosto para priorizar meu trabalho.

Meses se passaram e começaram a chegar pacotes na minha casa. Pacotes esses que continham meus apoios que eu nem sequer me recordava ter participado.
Enfim, foi como se o meu eu do passado estivesse presenteando o meu eu do presente.
Confuso? Talvez…

Deixando de lado os paradigmas e paradoxos do meu dia a dia, hora de focar no que temos em mãos aqui.
Aquele Jogo da Masmorra com Dragões & tal” é um apanhadão de “regras da casa” de RPG híper-simplificado que pode ser empregado em qualquer sistema de sua escolha ou adaptado para uma partida totalmente improvisada ou até mesmo solo.

O pequeno encadernado, muito bem editado por sinal, conta com um pouco mais de trinta páginas, é ricamente ilustrado e apresenta todos seus conceitos de maneira concisa e com exemplos claros e fáceis de acompanhar.
Vale também apontar o bom humor com que esses exemplos são apresentados ao leitor, que tornou essa leitura, além de rápida, um prazer.

Focando nos quesitos mais técnicos aqui, as regras contidas, na sua maioria, um teor muito mais direcionado para partidas rápidas e sem compromissos.
Já que um dos principais pilares desse sistema é o incentivo à criatividade dos jogadores, onde o primeiro requisito é a criação de uma classe totalmente nova e que fuja, de certa forma, dos clichês dos jogos de RPG mais clássicos.
O livro ainda faz algumas sugestões de classes e raças um tanto peculiares, para atiçar um pouco mais os nervos criativos dos jogadores.

No entanto, e isso é algo que não posso opinar ou criticar com muita autoridade, já que não tive a oportunidade de experimentar uma partida com outros jogadores ainda. O livro propõe que uma partida pode ser jogada sem a necessidade de um mestre, já que o foco aqui é apenas o dungeon crawl (exploração de masmorras) e o combate. Então, o fator ‘interpretação’ é praticamente nulo e cada um dos encontros com monstros e armadilhas deve ser previamente acordado entre os jogadores.
Eu, na minha posição de mestre, achei isso um tanto inusitado, mas gostaria de experimentar em algum ponto. Já que ainda dispomos de um conjunto de regras opcionais extras. Com as quais podemos até improvisar uma partida solo.
No papel tudo isso soa bem e funcional, no entanto, eu tenciono fazer um play test em algum ponto e, quem sabe, fazer uma segunda review até.

Tirando da frente o que é o sistema em si, eu também gostaria de elogiar o senso de improviso e ‘DIY’ que o livreto tem.
Isso é extremamente nostálgico pra mim, pois me faz lembrar dos meus tempos de adolescente. Quando meus amigos e eu criávamos nossos próprios sistemas, regras da casa, cenários e tantas outras coisas para incrementar nossas partidas de RPG.

A única coisa que me incomodou e isso não é um problema isolado desse livreto em questão, mas, aparentemente, na cena do OSR brasileira, é a “necessidade” de sempre incluir um texto introdutório falando sobre “espaços seguros” e “contratos sociais” antes de começar uma partida. Sinceramente, isso é cansativo e desnecessário…

Quase todo livro ou zine de OSR que eu pego, vêm com algum texto ou paragrafo com algum tipo de comentário social ou cultural.
Cacetada, eu tô aqui para jogar uma partida de RPG, matar monstros, acumular saque e chutar bundas!
Não quero saber dos problemas do mundo real e muito menos desses comentários sociais enquanto jogo RPG.

Pode ser papo de nerd velho, babaquice da minha parte ou só bom senso mesmo, mas essa inclusão da problematização de tudo dentro do universo dos RPGs é algo que vejo como algo forçado e até hipócrita.

Fora isso, meus elogios para “AjdMcD&t” (sim, essa é sigla que usaram pro jogo) são muitos e vejo grande potencial no sistema para partidas mais curtas que podem durar desde uma ou até várias sessões.
Altamente recomendado para jogadores mais folgados que queiram trazer o seu “muderhobo” interior à tona e dar algumas boas risadas enquanto perambulam por masmorras escuras e fedidas.