sábado, 9 de abril de 2022

Dragonero - Fazendo justiça ao gênero de fantasia nas HQs modernas

 

    Como todo leitor de HQs inveterado e com um pé muito bem firmado nos anos 90, é  praticamente inegável dizer que um título como "A Espada Selvagem de Conan" era algo  impossível de se superar em termos de quadrinhos voltados para o gênero fantástico. Aqui em terras tupiniquins, infelizmente, outros títulos que nos trouxessem bárbaros, bruxos malignos e criaturas horripilantes e fascinantes, eram raros de aparecer nas bancas.

     A essência do bárbaro cimério estava praticamente impressa no DNA do leitor brasileiro, que viveu (e em muito casos ainda vive) carente de outros heróis com contornos bem delineados nos gêneros da fantasia e principalmente da espada & feitiçaria.
    Não me entendam mal, pois eu também cresci com Conan e entendo a magnitude que o personagem tem. Sem falar no quão ele é querido por aqui, não apenas pelas HQs, mas também por suas aparições no cinema. Mas o que acontece é que EU (faço questão de colocar em letras maiúsculas para ressaltar que se trata de uma opinião pessoal) gostaria de ver mais variedade no que tange heróis, não apenas bárbaros, mas que habitassem esses mundos fantásticos e complexos que permeiam o gênero da fantasia e principalmente da espada & feitiçaria

    Claro, tratando-se de HQs os gostos podem divergir de maneiras gigantescas, mas, também é importante ressaltar que se estivermos dependendo dos quadrinhos mais modernos que encontramos pelas bancas hoje em dia, podemos dizer que a coisa tá feia. Aí que entra a Sergio Bonelli Editore e a Editora Myhtos.

    Nomes como Tex, Zagor e Dylan Dog são apenas alguns dos títulos que são muito queridos por um público mais underground, mas fervorosamente devoto aos quadrinhos que saem um pouco da curva dos, certas vezes, cansativos super-heróis da Marvel e DC. A Editora Mythos, muito conhecida por ser a licenciante dos títulos da Bonelli no Brasil, aventurou-se então um pouco além dos títulos já consagrados da editora italiana. 

    Dando um salto no tempo para o ano de 2019, "Dragonero - O caçador de dragões" aportou por aqui em uma edição especial "número zero" para apresentar ao leitor brasileiro esse personagem um tanto novo nos quadrinhos, que fora criado em 2014 por Luca Enoch e Stefano Vietti, com uma proposta que apesar de não reinventar a roda, é quase que refrescante em sua "simplicidade" e autenticidade.

    Lembro-me bem, inclusive, que no mesmo ano de 2019, fora publicada por aqui também a HQ "Lendas de Baldur's Gate : Dungeons & Dragons", pela editora Panini Comics. Uma adaptação do já consagrado RPG de mesa que angariou tantos fãs nos últimos anos devido a sua superexposição na cultura pop que vinha (e vem) acontecendo de uns tempos pra cá. E apesar de não ser tão entendido sobre o universo de Forgotten Realms e dos demais mundos que constituem o universo de D&D, eu sempre fui um grande fã de RPG e acabei indo com a HQ em questão ao invés de "Dragonero".

    Devo dizer que foi um baita engano, pois "Lendas" é praticamente uma HQ infantojuvenil e que em nada me cativou com seus personagens rasos e roteiros que em nada me impressionaram, mas não vou me prolongar demais quanto a isso, pois esse não é o intuito desse artigo. 
   Lembro também de na mesma época me pegar assistindo ao canal "Ministério dos Quadrinhos", onde acabei conhecendo melhor a proposta da publicação italiana. Me recordo perfeitamente do Alessandro, o apresentador do canal, ter se referido à todo o plot da HQ como uma boa partida de RPG de mesa e obviamente aquilo me chamou a atenção. E dada minha frustração com "Lendas", foi aí que decidi dar uma tentativa ao caçador de dragões.
    Encontrar as primeiras edições não foi algo tão difícil de fazer, até mesmo hoje; em 2022, creio que a única edição que possa dar um pouco mais de trabalho de encontrar seria o especial "número zero".
 
    Muito diferente do que eu havia lido em "Lendas", onde tudo é raso, irrisório e bobo, o contraste entre essa publicação e "Dragonero" chega a ser desleal, pois está mais que claro que independente de quem tem os direitos da licença para usar o nome "Dungeons & Dragons", a verdadeira paixão e apreço pelo gênero fantástico estão contidas nessa HQ italiana de altíssimo calibre.
   
    Vamos ao que interessa de uma vez, afinal, por que diabos você deveria ler "Dragonero"? Bom, creio que eu posso expressar alguns argumentos no mínimo convincente para tal. Em primeiro lugar, a alusão feita pelo Alessandro do "Ministério dos Quadrinhos" não poderia estar mais correta. E assim como eu, tenho certeza que muitos outros jogadores de RPG mais veteranos já se encontraram naquela posição de não ter mais um grupo para jogar, então acabamos por procurar outros meios de suprir nossa abstinência. Devo dizer que "Dragonero"funciona exatamente dessa forma, os arcos não são muitos longos, tem conclusões que são no mínimo adequadas, quando não satisfatórias e até mesmo catárticas, já que realmente podemos nos sentir parte daquela aventura e nos familiarizamos e compadecemos de seus personagens.

    Esses são sinais de uma história e de todo um world building que vão muito além do simples "vamos escrever uma história em quadrinhos". O mundo de "Dragonero" é vivo, vibrante e fascinante. Existem guildas, ordens, cultos, interesses ocultos, corrupção e, acima de tudo, há o heroísmo, representado muito bem pelo protagonista Ian Aranill. Tudo em "Dragonero", apesar dos contornos fantásticos e até surreais, ainda soa verdadeiro e profundo.
    As ações dos personagens não são impulsivas ou mal pensadas, pois eles carregam sérias consequências, ressaltando ainda que essas mesmas consequências muitas vezes podem voltar em um, dois ou até mesmo três arcos no futuro.
    Além disso, todos os personagens, falando independentemente de suas raças fantásticas, são legitimamente humanos e são dotados motivações inspiradas e movidas por emoções, memórias e sentimentos de toda sorte.
     
    Quero destacar também todo o incrível trabalho artístico presente nessa HQ, que apesar da troca de desenhistas, que é algo um tanto comum em publicações de duração mais longa, a arte se mantém coesa e imersiva, fazendo uso do preto e branco em seu favor para criar uma atmosfera que parece mais densa e em alguns casos até mesmo mais opressora. 
    Sei bem que muita gente não é muito fã de HQs em preto e branco, mas se você estiver aberto para mudar de ideia, "Dragonero" é um ótimo título para experimentar, já que a riqueza de detalhes em cada página chega a ser impressionante.

    Ao que me consta a publicação de "Dragonero" por aqui foi apenas um teste pela Editora Mythos, um teste que parece ter dado certo, pois atualmente a décima terceira edição já está disponível para pré-venda no site da editora.
    No que me diz respeito, sou apenas elogios para essa HQ, e sempre que sou perguntado por alguém interessado no gênero de fantasia de forma geral, mas se esse alguém não tem paciência para se dedicar a ler um livro ou saga inteira, eu recomendo essa HQ.
    Ela tem tudo que um fã do gênero pode querer, ação, aventura, combates mortais e a constante luta entre o bem e o mal.     
    Se você está cansado da mesmice que as HQs modernas se tornaram, não ignore essa oportunidade de conhecer algo totalmente novo, mas que ainda assim, será familiar como uma boa partida de RPG numa tarde de sábado com os amigos... agora role a iniciativa!



2 comentários:

  1. Não conheço ainda o personagem Dante, mas fiquei curioso pra ler... Brigadão pela dica irmão do Aço.

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  2. Dragonero é simplesmente uma das melhores séries de HQ no gênero fantasia. Ela mescla elementos de fantasia com tecnologias "primitivas". É bom demais!

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