Kenneth Bulmer, autor britânico nascido na década de 20 e falecido em 2005, é um nome um tanto desconhecido para os leitores brasileiros do gênero de fantasia, então, sua vasta bibliografia é um dos tantos casos de autores que abordaram (e ainda abordam) o fantástico a serem relegados a indiferença dos ditos fãs de fantasia e principalmente do subgênero da espada & feitiçaria.
Esse é sem dúvida nenhuma um tema que será recorrente por aqui, então serei breve.
Assim como muitos outros autores do mesmo gênero, Bulmer também escreveu vários livros de contos, novelas e até mesmo algumas sagas mais longas de ficção cientifica, mas, o que iremos discutir nessa humilde resenha será o seu título de 1970, "Sword of the Barbarians" (A espada dos bárbaros), título esse que permanece inédito na língua portuguesa.
Tratando do enredo, sem entrar no território dos famigerados spoilers, aqui temos a história dos irmãos gêmeos, Torr Vorkun de Darkholm e sua contraparte feminina Tara Vorkun de Darkholm (gostou de ter que ler o nome deles por completo? Porque no livro eles são repetidos ad nauseum), dois bárbaros que foram criados por um feiticeiro benigno que os resgatou quando ainda muito jovens dos ermos onde viviam com seu povo, a fim de educá-los. Mas apesar de sua criação oriunda de homem civilizado e até erudito, ambos ainda mantém laços com suas raízes e continuam sendo vistos como bárbaros pelos demais e até por eles mesmos.
Ambos tem o mesmo objetivo, a busca pelo seu pai adotivo que desapareceu há alguns anos e isso os leva a diferentes reinos durante o desenrolar da trama, onde acabam por se envolver em uma guerra entre senhores nobres e feiticeiros necromantes que lutam entre si por terras em um reino divido.
Parece interessante até agora pra você? Porque as coisas estão prestes a mudar...
Vale ressaltar que "Sword of the Barbarians" é um livro curto, apenas 127 páginas, algo que não é incomum para o gênero de espada & feitiçaria, mas o que ocorre aqui é uma tentativa de se morder mais do que se pode mastigar.
Novos personagens são incluídos na trama com frequência, e muitas vezes sem motivo aparente além de ticar de uma lista de esteriótipos, pois esses pastiches são muitas vezes totalmente irrelevantes para desenrolar da trama e acabam por ser sumariamente ignorados algumas páginas mais tarde.
Os próprios protagonistas, Torr e Tara, também não são um exemplo mestre de construção de personagens.
Torr é um típico bárbaro estereotipado que vemos em mesas de RPG por aí, agir antes de pensar é o seu mote e ele não perde a oportunidade de não ficar calado também. Enquanto Tara, devido aos seus dotes mágicos (ela consegue realizar pequenos feitiços quando fica nua) poderia ser uma personagem bem mais interessante, pois são raros os casos de personagens femininos diretamente ligados ao barbarismo, acaba por suprir o nicho de donzela em apuros durante mais da metade do livro, um belo de um desperdício.
O relacionamento entre os dois personagens chega a ser interessante em certos momentos, pois eles tem uma espécie de ligação psíquica que lhes permite se comunicar quando um deles esta em perigo, mas esse é um dom que, assim como outros detalhes, acaba por ser ignorado após mais um tempo de leitura.
Existem vários outros personagens coadjuvantes, como Frelgar, o pragmático, um ex-mago, que apesar de ter sido um grande mestre no passado, fez votos de nunca mais usar de sua magia e Zirmazd, o astuto, que será o vilão mor da trama e está de total acordo com todos os clichês do gênero.
Sendo um necromante, a serviço de um lorde corrupto, usa de magia e apetrechos mágicos para impedir o progresso dos heróis, vocês sabem bem, ossos do ofício.
Meu maior problema com esse livro é talvez a sua indecisão sobre o que ele se presta a ser, pois sempre há pelo menos duas ou três coisas acontecendo ao mesmo tempo, e eu consigo me compadecer plenamente com a constante indecisão dos protagonistas, já que nada é simples, tudo é difícil e tudo demanda uma resposta imediata nesse universo.
Apesar do ar genérico que temos aqui, da trama um tanto inchada devido à inclusão constante de personagens e conceitos novos a cada instante e até mesmo a dificuldade de entender qual é de fato o objetivo final, seja dos protagonistas ou vilões, pois tudo é muito nebuloso, eu ainda consegui me divertir lendo esse trabalho do Sr. Bulmer.
Não se trata, nem de longe, de algo seminal, uma obra-prima, ou o magnum opus do autor, mas trata-se de uma boa porta de entrada para o gênero.
"Sword of the barbarians" foi escrito e publicado na mesma época em que a obra de Robert E. Howard estava sendo redescoberta nos Estados Unidos, e devido à popularidade e repercussão obtida pelo cimério, obviamente "imitações" iriam surgir.
Mas um fenômeno que acho um tanto interessante sobre a espada & feitiçaria é que, independente de autores ou personagens, mesmo com as inegáveis influências e semelhanças com Conan, há sim um grande respeito pela imagem do herói bárbaro.
Sejam esses personagens jovens imaturos ou velhos guerreiros grisalhos, o arquétipo do imbatível combatente, erguido contra tudo e todos, é mantido através dessas histórias.
Algo que, vale muito ressaltar, está presente nesse livro, que apesar de todos os seus problemas e infinitas pontas soltas, conta com um final no mínimo bombástico.
Definitivamente fez valer a pena ler alguns dos momentos mais maçantes ou desconexos da história para chegar na "conclusão" (explico melhor as aspas em breve) tão intensa e arrebatadora para o confronto final entre Torr e Zirmazd.
Mas a conclusão não é bem um fim que fecha tudo como esperado, pois o livro acaba apenas com parte da missão cumprida, dando abertura para uma sequência, que até onde eu sei, nunca chegou a ser escrita.
Como considerações finais, diria que "Sword of the barbarians" pode não ser o melhor dos livros de espada & feitiçaria e mesmo cheio de problemas no ritmo da história e dos tantos coadjuvantes desnecessários, eu ainda me diverti com essa leitura.
Mesmo com apenas 127 páginas o livro parece um pouco maior devido aos problemas que já citei antes, mas mesmo assim é uma leitura rápida e que entretêm.
É como uma partida de RPG com os amigos no domingão, ninguém está nem aí para um grande desfecho épico, queremos apenas XP e curtir a aventura.
NOTA : 2,5 / 5
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