Permita-me
ilustrar uma situação que, acredito eu, todo jogador de RPG já
passou em algum momento da vida ou irá passar.
É tarde de
sexta feira, a campainha toca, é o carteiro. Ele trouxe um
pacote de tamanho generoso. Dentro, você encontra aquele sistema
novinho que estava tão animado para experimentar, ou até mesmo
algum suplemento para algum outro sistema que você já tem e estava
querendo dar uma incrementada.
Sextou! Acabou o
expediente do trabalho, hora de recostar, relaxar e curtir a leitura
do seu RPG novinho.
Aí você começa a
pensar nos possíveis cenários, adaptações e, principalmente, em
todas as aventuras que poderá ter com aquele RPG.
Aí cai a tão
temida ficha, o choque de realidade vêm e é impiedoso.
Para
jogar, você precisa de um grupo de pessoas, e nenhum dos seus amigos
mais próximos tem tempo para se dedicar à uma campanha que pode
durar meses e até anos!
Quem nunca passou por isso, das duas uma, ou está mentindo, ou ainda passará por essa situação tão desagradável.
Eu mesmo, me encontro nessa fossa hoje em dia. Onde todo mês chega algum suplemento, zine ou OSR novo na minha casa, mas não tem um caboclo sequer pra jogar comigo.
Dada essa tristeza toda, é comum que um jogador de RPG inveterado busque por meios alternativos para saciar essa vontade (leia-se necessidade) de aventura. E é aí que entram os videogames!
Recentemente, dada minha falta de um grupo para jogar um bom e velho AD&D, me peguei buscando por alternativas no mundo dos games eletrônicos.
Fossem eles antigos ou novos, tudo que eu queria era me perder no mundo de Forgotten Realms e curtir uma boa aventura repleta de masmorras, magia e monstros.
Eu já estava ciente que a franquia D&D já teve seus flertes com os videogames desde o fim dos anos 80, mas, primariamente, esses jogos foram lançados para PC, e eu sou majoritariamente um sujeito que joga nos consoles.
Ainda assim, ao
saber que o primeiro jogo da série, “Pool of Radiance” de 1988,
ganhou uma versão para o saudoso Nintendinho de 8-bits, eu não
pensei duas vezes. Mesmo sabendo que entre os fãs, a versão para o
console da Nintendo era considerada inferior em comparação com o
jogo original para PC, isso não me dissuadiu.
Então já deixo
claro que essa resenha tratará exclusivamente da versão para o
Nintendinho.
“Pool of Radiance”
é considerado um clássico eterno do gênero de CRPGs (Jogos de RPG
para computadores). E sua versão para o console da Nintendo, apesar
de um tanto diferente em termos visuais, ainda transborda com aquele charme que só o mundo de D&D tem.
As interfaces e regras são bem familiares para quem já teve a oportunidade de
jogar a primeira edição de AD&D. O que garante um sensação reconfortante para os jogadores mais ansiosos.
O jogo em si é um tanto
simples, já que basicamente estamos falando de um dungeon crawler um
tanto primitivo. Mesmo assim, “Pool of Radiance’ dá ao jogador
várias liberdades que o permitem muita experimentação (e chances
ao erro, claro).
Para um jogo
originalmente lançado em 1988, as interações com o mundo que
rodeia o seu grupo de aventureiros são bem amplas. Apesar de serem,
na sua maioria, apenas estéticas ou sem grandes impactos na
jogabilidade, mas de toda forma é bom que estejam lá, pois ajudando bastante na imersão.
Mas o que realmente
importa aqui é a exploração de masmorras e a chacina desenfreada
de monstros de toda sorte. E como essa adaptação de AD&D se sai
nesse âmbito afinal de contas?
Não muito bem,
infelizmente…
Em comparação com outros jogos, sejam contemporâneos ou mais modernos, “Pool of Radiance” tem suas faltas feitas mais aparentes devido a sua obsessão com suas regras que estão firmemente plantadas no RPG de mesa tradicional.
Enquanto que o rolar de dados em uma mesa, rodeado de amigos lutando contra monstros medinhos, seja uma sensação ímpar. A mesma experiência não se traduz para um videogame.
Todo jogador de RPG
sabe que errar um ataque por causa de um dado teimoso é uma
realidade. Mas em “Pool of Radiance” cada combate será
assombrado constantemente pela mensagem “Você errou seu ataque”.
Tive a infelicidade
de entrar em combate contra um grupo pequeno de monstros, cerca de três
ou quatro Kobolds, e perder quase 15 minutos da minha vida porque meus
personagens simplesmente eram incapazes de acertar seus ataques.
Há uma sensação constante de impotência e de estar perdido que permeia o jogo. Normalmente, quando se trata de dungeon crawlers antigos, essas sensações são comuns nos primeiros momentos do jogo. Mas “Pool of Radiance”, por estar tão profundamente inserido em suas raízes de RPG de mesa, acaba por se tornar um jogo frustrante e desnecessariamente complexo para jogadores mais iniciantes.
Realmente, se seu
conhecimento sobre D&D (e AD&D) é zero, esse decididamente não é um
jogo para você.
Pois ele já assume familiaridade por parte do
jogador com as regras dos sistemas já citados.
Em uma visão geral, “Pool of Radiance” tem aquele charme que é tão único ao universo de D&D, no entanto, esse não é o tipo de jogo que eu recomendaria para alguém que esteja buscando uma introdução ao gênero.
Em termos de videogames, se você procura uma experiência de dungeon crawl que seja mais hard core, mas que não seja frustrante ao ponto do seu controle ir de encontro a tela, eu recomendaria outros títulos disponíveis no Nintendinho ou até mesmo em outros consoles.
Por fim, “Pool of
Radiance” não é um jogo ruim, mas termos como “datado” ou
“antiquado” não são um exagero. Apesar de eu gostar do jogo, não
consigo recomendá-lo sem ressalvas.
Aproxime-se apenas
se você uma iniciativa acima de 15, muita paciência e alta
tolerância com jogabilidade lerda e não cooperativa.
Caso tenha interesse, a versão para PC de "Pool of Radiance", e vários outros jogos da série, podem ser encontrados por um ótimo preço AQUI.
Para a versão do Nintendinho, sinto muito, mas cópias do cartucho original são bem raras.
Mas afinal, é pra isso que existem os emuladores.